balde branco

TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

  A tendência dos alimentos superprocessados que imitam, que tentam reproduzir os alimentos naturais de origem animal, é irreversível porque os consumidores estão dispostos a pagar – e pagam caro – por alimentos assim”

Ser ou não ser, eis a questão

A frase acima vem da tragédia “Hamlet, príncipe da Dinamarca”, do autor inglês William Shakespeare. Ela é famosa porque se refere a um profundo exame de consciência entre viver e morrer. Mas essa frase também remete a uma realidade irreversível que vive o mercado do leite, comentada aqui mesmo, alguns meses atrás: o aparecimento dos alimentos superprocessados, preparados à base de extratos de vegetais que são vendidos como “leite”. São alimentos que tentam atender o dilema de consumidores que buscam alimentos saudáveis, que lembrem sabores da infância, mas que, por outro lado, por relativa ignorância, consideram que o consumo de leite e lácteos é ruim porque as vacas produziram o leite em condições que as fizeram sofrer.

Bebidas brancas, com proteínas e vitaminas adicionadas, são oferecidas aos consumidores como leite, mas um “leite vegetal”. Ser leite, mas não ser leite. Parece, mas não é. Tem espessura de leite, lembra o cheiro do leite, mas não é leite. Esse tipo de apelo comercial tem funcionado: uma empresa do setor, há pouco tempo no Brasil, anunciou no início de setembro que recebeu cerca de R$ 450 milhões em novos investimentos.


A tendência dos alimentos superprocessados que imitam, que tentam reproduzir os alimentos naturais de origem animal, é irreversível porque os consumidores estão dispostos a pagar – e pagam caro – por alimentos assim. Na minha opinião, imaginam que desta forma estão se nutrindo de modo saudável, com baixo impacto sobre o ambiente e sem sofrimento, porque não há animais envolvidos na produção. Ocorre que a literatura científica demonstra que alimentos superprocessados de um modo geral não são nutricionalmente balanceados ou os nutrientes nele contidos não são absorvidos nas mesmas quantidades do que, por exemplo, o cálcio contido no leite ou num pedaço de queijo. Além disso, para produzir, gastam-se mais água e mais energia do que a produção eficiente de leite.


Mas e o argumento de que as vacas são submetidas a estresse e sofrimento para produzir leite? Não procede! É consenso no setor, que foi bem evidenciado, por exemplo, pelos depoimentos de dois tradicionais produtores de leite, cujas famílias estão na atividade há mais de 70 anos, e pela experiência do responsável pela captação de leite de uma das maiores empresas produtoras de lácteos do mundo, durante a primeira edição do “Ideas for Milk Lives”: vacas mantidas em fazendas de produtores interessados em atender os desejos dos consumidores produzem muito leite, porque vivem sem estresse, com comida e água de qualidade, em ambientes confortáveis. É a demonstração do conceito de “vacas felizes”.


O mais novo produto da iniciativa Ideas for Milk da Embrapa Gado de Leite, a série de encontros “Ideas for Milk Lives”, consiste em conversas e palestras transmitidas pela internet sempre às terças-feiras às 17h, pelo canal do YouTube da Embrapa e também pela RepiLeite, rede social da Embrapa para o leite. O novo modo de interação com o público teve início no mês de setembro e vai prosseguir até dezembro, trazendo formadores de opinião comentando sobre temas atuais da cadeia do leite, oportunidades para novos negócios, inovação tecnológica e transformação digital.


Em 2020, a quarta edição do Ideas for Milk, maior evento envolvendo novas tecnologias para a cadeia produtiva do leite no Brasil, terá várias atividades pela internet. Vamos assim ampliar a participação das pessoas, por meio dos vários eventos virtuais que planejamos.


Ser um produto saudável, natural, produzido por animais sem estresse. Não ser um alimento superprocessado, artificial. Essa é a questão que deve ser diferenciada e comunicada claramente aos consumidores. Fazer essa distinção é hoje um dos maiores desafios para todos os que participam da cadeia do leite, para garantirmos a sustentabilidade de um dos mercados de alimentos mais importantes do mundo.

 

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