Tecnologias 4.0

Edson Barbosa

Engenheiro de computação, participante de mentorias no Ideas for Milk

SERÁ QUE O MERCADO DE EMPRESAS STARTUPS MERECE ATENÇÃO?

   Embora o título seja uma provocação saudável, a ideia deste texto é compartilhar um pouco do que está acontecendo, no Brasil e no mundo, no cenário de investimentos realizados por grandes grupos em empresas startups. O tema é vasto, mas vale comentar um pouco desse mercado.

   Por definição, e parafraseando o que está na Wikipedia, startup é “uma empresa emergente recém-criada e ainda em fase de desenvolvimento, que é normalmente de base tecnológica, que tem como objetivo principal desenvolver ou aprimorar um modelo de negócio, preferencialmente escalável e repetível”. Exemplos: iFood, Uber, Netflix, NuBank.

   Curiosidade: o impacto da transformação digital – fenômeno que incorpora o uso da tecnologia digital às soluções de problemas tradicionais –, ocorrida nos últimos anos no mundo em praticamente todos os setores da indústria, catalisou uma “especialização” no mundo das startups. Termos americanizados como AgTechs (agronegócio), HealthTechs (saúde), FinTechs (bancos e mercado financeiro), LegalTechs (jurídica), InsurTechs (seguros) são alguns exemplos para referenciar o nicho no qual uma startup atua.

   Quase onipresentes no mundo das startups, os grandes fundos de investimento, como Tiger Global Management, SoftBank e Y Combinator, denominados VC (Venture Capital), aqui leia-se capital de risco, são grandes grupos de investidores que apostam alto e cooperam para o sucesso de algumas startups que já apresentam considerável maturidade em seus negócios. 

   Um dos resultados diretos desses investimentos, somado ao arcabouço de experiência compartilhada por esses fundos, foi o surgimento de “Unicórnios”, termo cunhado pela americana Aileen Lee, em 2013, para classificar startups com um valuation (avaliação de empresas) igual ou superior a US$ 1 bilhão. Sim, os grupos acima também investiram em startups brasileiras como NuBank (uma FinTech “decacórnio”, valendo US$ 10 bilhões), Stone, Arco Educação, 99 Taxi e várias outras.

   Chama atenção a dicotomia: se por um lado a participação do agronegócio no resultado do PIB brasileiro em 2019 foi de 21%, ou seja, um naco de quase um quarto foi agricultura – estamos falando do PIB com valor divulgado de R$ 7,3 trilhões. A ver, aproximadamente R$ 1,8 trilhão foi gerado unicamente pelo segmento do agronegócio nacional e, pasmem, ainda não temos nenhuma AgTech brasileira participando do tal “Clube dos Unicórnios”. É algo para reflexão.

Até o presente momento nenhuma startup ligada, diretamente, à cadeia do leite entrou para o seleto Clube dos Unicórnios. Enxergo isso como uma tremenda oportunidade."

   E no mundo? Curiosamente, até o ano de 2017 não existia nenhuma startup no segmento das AgTechs fazendo parte do “Clube dos Unicórnios”. Foi a Indigo (US$ 3,4 bilhões de valuation) a primeira. Depois vieram outras, como Gingko Bioworks, Cool Planet Energy Systems, Farmers Edge Laboratories, PrecisionHawk, Farmers Business Network, Zymergen (bem próxima de se tornar Unicórnio). Outro ponto que chama a atenção é a quantidade de AgTechs que alcançaram o status de Unicórnio e que estão aglomeradas no segmento de Biotecnologia – tal aglomeração foi “sentida” no relatório da Thrive – 2020 Thrive Top 50 Agtech. Ah, no tal relatório foram mencionadas duas AgTechs nacionais: AgroSmart e Solinftec.

   E na cadeia do leite? É bem verdade que até o presente momento nenhuma startup ligada, diretamente, à cadeia do leite entrou para o seleto “Clube dos Unicórnios”. Enxergo isso como uma tremenda oportunidade. Propositalmente, não foram abordadas neste texto as diferentes modalidades de investimento que hoje existem no mercado – Bootstrapping, Investidor-Anjo, Seed, Séries, etc. Estas são adequadas aos diferentes níveis de maturidade comercial que cada startup possui.

   Finalizando, pertencendo ou não a uma startup voltada ao agronegócio, fica a pergunta: quais os predicados chamam a atenção dos investidores e consequentemente justificam os montantes investidos? A resposta é que não existe uma “fórmula matemática” para tal. No lugar, são utilizados filtros que analisam, minuciosamente, alguns pontos como histórico e perfil dos fundadores (principalmente a capacidade de execução), a qualidade do problema que a startup se dispõe a resolver (problemas mais complexos requerem um grau mais arrojado no perfil dos fundadores), o tamanho do mercado a ser trabalhado (expansão internacional, bem como a construção de parcerias são muito bem-vindas), níveis de disrupção do produto ou serviço (ponto que ultimamente vem chamando a atenção dos investidores) e, por último, a capacidade de expansão do negócio e replicabilidade, para outras indústrias.

   Quem sabe você não se tornará o próximo fundador de uma startup.

 
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