balde branco

CRÔNICA

Paulo do Carmo Martins

Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite

 O mundo ficou muito mais complexo. O foco não é somente no ganho de produtividade, mas de que forma se produz e com que propósito se consome”

Sete anos se passaram

Em 2014, o celular tinha como principal função as ligações telefônicas e ainda não era órgão acessório ao corpo humano. A Copa de Futebol fatalmente seria ganha por nós e o Mineirão nunca assistiria um 7×1, oferecido pela Alemanha. Donald Trump, o polêmico empresário, demoraria dois anos para assumir a presidência dos Estados Unidos e o mundo buscava se acostumar com a existência de dois Papas vivos e com características distintas.

Em 2014, a economia brasileira crescia e estimulava o consumo de leite. Como resultado, a produção brasileira crescia continuamente, a ponto de ter aumentado o equivalente a toda produção argentina, em apenas sete anos.

Em 2014, fomos escolhidos Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite e construímos uma proposta de trabalho baseada em duas pesquisas de opinião junto aos stakeholders (parceiros) internos e externos. No âmbito interno 115 empregados responderam a um questionário, sendo que 86 eram pesquisadores e analistas. No âmbito externo 143 pessoas responderam ao questionário. Eram de 16 estados e do Distrito Federal.

Foi com base neste processo que estruturei o documento “O futuro, estamos a construir” – o Plano de Trabalho previsto inicialmente para o período 2014 a 2017. O documento traz, na página três, os Princípios da Gestão que se iniciava, baseados na Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, o acrônimo LIMPE. E detalha o foco nos princípios da Governança Corporativa: Transparência, Equidade, Prestação de Contas e Responsabilidade Corporativa.

Em termos operacionais, o documento explicita os seguintes compromissos: a) produzir soluções puxadas pela demanda da sociedade e com a sociedade, em vez de empurrada pela oferta gerada pela vontade individual; b) gerar soluções de modo planejado, participativo, em equipe; c) gestão por resultados e com controle social, em contraponto à visão patrimonialista; d) intensificar atuação nacional em contraponto à visão mi-neiro-centrista; e) atuar em rede, valorizando os parceiros.

Fomos reconduzidos ao cargo, após avaliação institucional de desempenho, para um novo mandato de 2017 a 2020, prorrogado até 31 de agosto de 2021. Portanto, sete anos à frente da Embrapa Gado de Leite. Neste período, mudaram as perguntas e os anseios dos stakeholders. O mundo ficou muito mais complexo. O foco não é somente no ganho de produtividade, mas de que forma se produz e com que propósito se consome. As organizações e instituições não tem mais o monopólio de atuação, pois as soluções geniais geradas pelas startups, hoje fazem balançar os grandes conglomerados.

Nestes sete anos promovemos a transformação digital da Embrapa Gado de Leite, inspirada no que aprendemos com o movimento Ideas For Milk. E houve o reconhecimento interno ao legado deste movimento. A Embrapa tem um processo interno de avaliação de desempenho e atribuiu as maiores notas de avaliação, ao longo de cinco anos, para os seus pilares: Vacathon e Desafio de Startups. O Ideas For Milk também influenciou outras iniciativas, como o Inovapork, Inovaavi, Ideas para o Café e Cafethon, Canathon, Inovaaqua, Ideas For Farm. Em termos de instituições, a OCB criou o Inovacoop e a CNA o Agro Startup.

Esta gestão que se finda, deixa como uma de suas marcas a atuação em rede com o setor produtivo. Neste momento temos 120 contratos ativos de parceria com empresas e instituições. A segunda marca é a construção de uma nova agenda temática de pesquisa, sempre em parceria com empresas e Universidades: hoje, estamos trabalhando Leite Carbono Neutro, Leite Orgânico, Biosseguridade no Leite, Bem-estar animal, Pecuária de Precisão, IOT, criando algoritmos, contribuindo com a melhoria do queijo artesanal, gerando informações sobre o mercado, desvendando as vontades do consumidor.

A terceira marca foi a conexão global que estabelecemos com outros países. Interagimos de modo presencial e virtual com 51 países do Globo, apesar do leite ser um produto típico de mercado interno. A quarta marca é captura de valor nas três formas possíveis: a) aprendendo a fazer o novo; b) melhorando nossa inserção na sociedade em todos os segmentos; c) monetizando nossos feitos. O Ideas For Milk, por exemplo, monetizou R$ 1,3 milhões.

A quinta marca é a da Inovação Aberta. Criamos o Desafio de Inovação Aberta, em que 97 empresas propuseram parceria conosco, criamos o Residência Zootécnica Digital, em que jovens geram aplicações digitais para o setor, e viabilizamos o Silo – Inovação Aberta, que irá sedimentar parcerias de inovação com empresas, universidades e startups.

O resultado de tudo isso foi reconhecido pela sociedade. Na Embrapa, na avaliação anual nossa Unidade obteve o grau “A”, o mais alto, continuamente nos últimos quatro anos. O Relatório de Sustentabilidade 2014 -2021 detalha estas conquistas (disponível em https://www.embrapa.br/gado-de-leite).

Volto para a carreira de pesquisador, que me projetou e me deu credibilidade para que eu pudesse liderar esta importante Unidade da Embrapa.

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