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Com contratação de empresa especializada, produtor tem silagem de qualidade sem precisar investir em máquinas

REDUÇÃO DE CUSTOS

SILAGEM

Terceirização da colheita do milho

beneficia o pecuarista

Esse arranjo vem ganhando espaço em diversas regiões do País, contribuindo para a redução de custos e ganhos em eficiência

João Ricardo Alves Pereira

Durante as últimas décadas houve um intenso crescimento na demanda pela mecanização e automação em todas as fases do processo produtivo, sempre com a utilização de tecnologias avançadas. Esses processos tornam o mercado da produção agropecuária cada ano mais competitivo, fazendo com que o produtor tenha a necessidade de atualizar-se periodicamente, para não ter a produtividade prejudicada e qualidade inferior no seu produto em razão do baixo emprego de tecnologia. Um dos grandes desafios de toda propriedade agropecuária, principalmente aquelas com pequenas extensões de terra, é a ociosidade ou a desatualização de suas máquinas agrícolas.

Para evitar o custo de adquirir uma nova máquina, custos operacionais, trabalhador capacitado para operar, entre outros, o produtor tem visto na contratação de serviços uma opção viável. Neste caso, investir menos pode ser ganhar mais. O processo de terceirização de máquinas e serviços não é necessariamente uma novidade, tanto que vários produtores já alugam seus tratores e colheitadeiras para vizinhos, nos mais diversos tipos de parcerias, porém sem contrato.

Atualmente, impulsionada pelo significativo crescimento da pecuária bovina de leite e de corte, a terceirização de serviços, principalmente de colheita de forragens, vem se tornando uma prática cada vez mais comum em várias regiões do Brasil. Um levantamento realizado na região centro-oriental do Paraná e no sul de São Paulo, junto às cooperativas Frísia, Capal e Castrolanda, demonstra aumento significativo nos serviços de terceirização da colheita do milho para produção de silagem entre os anos de 2016 a 2019, conforme pode ser observado na figura 1.

Em SP, PR e RS tem aumentado, nos últimos anos, o número de produtores que terceirizam principalmente a colheita de forragens

No Rio Grande do Sul, em trabalho realizado pela Vitalle Consultoria na safra 2019/20, em 42 propriedades, constatou-se que 72% das colheitas foram terceirizadas.

Cabe ressaltar que a terceirização na produção de forragem conservada não está associada somente às forrageiras autopropelidas, e sim a toda forma de trabalho que envolva pagamento em espécie e/ou troca por serviços pelo uso de máquinas, equipamentos e veículos nas etapas de produção e colheita de forragem destinada à conservação. Enquanto a avaliação no Rio Grande do Sul mostrou que 53% da colheita era realizada com máquinas tracionadas, as avaliações no Paraná e sul de São Paulo mostraram um predomínio crescente das colhedoras automotrizes (Figura 2).

Independentemente do tipo de máquina (tracionada ou automotriz) utilizada, é fundamental que o produtor fique atento à qualidade da silagem que está sendo feita, uma vez que a digestibilidade do amido está diretamente ligada ao grau de processamento do grão de milho durante a colheita. A maioria dos produtores de leite, carne e prestadores de serviços de colheita já ouviu falar da importância que a silagem adequadamente processada pode significar para a rentabilidade da atividade.

A maneira mais precisa de se quantificar o efetivo processamento de grãos na silagem de milho é por meio da determinação, em laboratório, do índice de KPS (Kernel Processing Score). Por meio de um conjunto vibratório de peneiras são considerados processados os pedaços de grãos que passam na malha de 4,75 mm, que corresponderia à quebra do grão no mínimo em quatro partes. O valor encontrado permite classificar o processamento em três faixas:

Processamento Valor de KPS
Excelente: Maior que 70 %
Bom: 50% a 69 %
Ruim: Menor que 50%

O resultado de uma análise de KPS será um bom indicativo do desempenho produtivo dos animais durante todo o período de fornecimento daquela silagem.

Podemos ter ótimos resultados de processamento de milho com máquinas tracionadas, assim como silagem de qualidade inferior, colhida por automotrizes, conforme demonstrado na Figura 3.

Análise para determinar o tamanho desejável das partículas durante o processo de colheita da planta

Monitorar todo o processo – Contudo, terceirizar a colheita não é transferir a responsabilidade sobre ela. O produtor deve estar atento desde a escolha de quem vai fazer a silagem (recursos e equipamentos para colheita), o monitoramento do corte e a compactação da mesma.

O processamento dos grãos deve ser monitorado por uma pessoa treinada durante todo o processo de colheita, pois pode haver variações na eficiência de quebra de grãos entre talhões da lavoura, estágio de desenvolvimento da planta, velocidade de colheita e, principalmente, no tamanho do picado da forragem, fazendo com que ajustes nos processadores das colhedoras (cracker ou quebra grãos) sejam feitos com frequência.

Uma maneira simples e muito prática para auxiliar no monitoramento do processamento de grãos é tomar amostras durante a descarga da forragem colhida no silo, utilizando-se um copo de 1 litro de volume. A amostra deve ser espalhada sobre uma superfície limpa e seca e separados todos os grãos inteiros ou com tamanho superior a pouco mais de sua metade, certificando-se de que não foram quebrados e que os pedaços estão unidos apenas pela película do grão. O ideal é que não sejam encontrados mais que dois grãos inteiros ou maiores que meio (tolerável até três ou quatro). Se observados em duas ou três avaliações subsequentes, o operador da colhedora deve ser imediatamente informado para os devidos ajustes na máquina.

O pecuarista deve monitorar o trabalho da colheita para ter a certeza de obter uma silagem de qualidade

Ao contratar serviços de terceiros, a tendência é de crescimento da qualidade da silagem produzida e uma boa gestão de todo o processo pode promover ganhos expressivos em produtividade do rebanho. Na tabela 1, temos a análise financeira simulando perdas de amido fecal em decorrência do menor processamento de grãos na silagem, expresso em KPS, que poderiam ser decorrentes de uma limitação das máquinas colhedoras e/ou de uma ingerência durante o processo de colheita. Se comparados o valor de KPS de 70%, considerado excelente, com o valor de 40% de KPS, considerado baixo, as perdas econômicas em um rebanho de cem vacas em lactação são próximas de R$ 90 mil ao ano, valor que seria maior do que os custos totais dos serviços de colheita.

A busca por mais eficiência e menores custos em todas as etapas das atividades pecuárias são alguns dos motivos que contribuíram para o crescimento da terceirização de serviços. Uma boa empresa terceirizada, além de bons profissionais, também vai oferecer máquinas e equipamentos mais modernos para a execução dos serviços de colheita, gerando economia a médio e longo prazos e aumentando constantemente a qualidade do serviço prestado.

Ao contratar serviços terceirizados, o produtor terá economia de recursos em novas aquisições e manutenção de máquinas, muitas vezes subutilizadas, e passa a contar com trabalho especializado, o que permite focar a sua atenção e recursos a outros setores da atividade. Contudo, ele deve estar continuamente atualizado para implementar ferramentas e processos de monitoramento da qualidade forragem colhida; para isso é vital investir no treinamento de funcionários para a execução de procedimentos simples, mas fundamentais para garantia da qualidade da silagem produzida.

João Ricardo Alves Pereira é doutor e professor na Universidade Estadual de Ponta Grssa (PR). vitallenutricaoanimal@gmail.com

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