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O silo, além de fácil instalação, dispensa o uso de trator para compactação, que é feita com pisoteio

SILO

Silo chinco

se mantém como opção de baixo custo

É uma técnica prática, importada e usada tradicionalmente na pequena propriedade, mas também encontrada nas fazendas maiore

Luiz H. Pitombo

O silo cincho, que tem esse nome justamente por ser confeccionado com o uso de uma fôrma de metal similar às utilizadas nas queijarias, também é conhecido por “silo bolo” ou “rapadura”, numa variante baiana que utilizou um molde retangular. É igualmente adotado no Uruguai e na Argentina.

Sua inspiração inicial vem de antigos produtores de leite da Itália e passou a ser difundido pela extensão rural no Brasil em regiões semiáridas e outras nas quais predominam pequenas propriedades e um volume não elevado de animais para suplementar nos períodos de escassez. O silo tem gasto reduzido de instalação e dispensa o uso de trator para compactação, que é feita por pisoteio.

Em geral, os técnicos indicam a confecção de silos com cerca de 1,5 metro de altura por 3 metros de diâmetro, o que resulta em 6 toneladas de silagem. O produtor tem a opção de ensilar o volume que melhor se ajuste às suas necessidades e disponibilidade de material verde existente. É preciso considerar que, nas quantidades mais expressivas, por exemplo acima de 30 toneladas, os silos do tipo superfície e o trincheira são os mais indicados.

Mas o cincho tem demonstrado vantagens, como a de reduzir os riscos de perdas, acreditando-se que isso ocorra pela boa compactação que se consegue, além do fato de os silos não serem abertos todos no mesmo momento, o que adia a entrada do oxigênio, que favorece o desenvolvimento de fungos e bactérias. Também se mostra positivo o bom fechamento e a vedação que se conseguem com a amarração da lona. Isso, além da questão de que, em volumes menores, os tratores não conseguem fazer uma boa compactação.

Com o aumento da produção de leite, o crescimento dos rebanhos tem levado à migração para silos maiores em propriedades da região de Brasília de Minas, a noroeste do Estado. Mas muitas dessas propriedades ainda mantêm o silo cincho como alternativa dentro do sistema de produção, por exemplo, para aproveitamento de restos de cultura como ramas de mandioca que normalmente seriam deixadas no campo após a coleta das raízes.

Manoel M. de Sousa: “O silo cincho pode ser usado em qualquer região do País, sem restrições de clima ou temperatura, para ensilagem de milho, sorgo, capim-capiaçu e parte aérea da mandioca”

O técnico extensionista Manoel Milton de Sousa, que atua na Emater-MG do mesmo município, é um entusiasta das questões relacionadas à conservação de forragem e tem trabalhado na divulgação da técnica entre produtores familiares. Ele comenta que a técnica já foi alvo de trabalhos feitos por órgãos de extensão de outros Estados (PI, CE, RN, MT e MG), mas, mesmo assim, ele considera que poderia estar sendo muito mais divulgada e utilizada.

Sousa enfatiza que a instalação do silo cincho pode ocorrer em qualquer região do País, sem restrições de clima ou temperatura. Nas áreas mais quentes é utilizado na época seca do ano e, nas frias, quando as geadas comprometem os pastos. Quanto ao processo de fermentação e seu resultado final, afirma que não diferem de outros tipos de silos, com o benefício das menores perdas com o tipo cincho.

Em relação ao material a ser ensilado, o técnico sugere os comumente utilizados, como milho, sorgo, cana-de-açúcar e o capim-capiaçu, que vem sendo muito empregado para isso. Ele ressalta também os excelentes resultados com ensilagem da parte aérea da mandioca, cuja toxicidade peculiar acaba durante a fermentação no silo.

Os teores de proteína bruta (PB) encontrados na região deram 12% na ensilagem de plantas inteiras cortadas a 30 centímetros do solo e superando os 20% quando feita só das folhas.

Antes de colocar a serragem picada, é preciso fazer um ‘fundo’ com uma camada de palha de uns 5 centímetros, para evitar o contato direto com a terra

Classificada como volumoso, a silagem proveniente do silo cincho pode entrar na ração de qualquer categoria animal como fonte de energia, sendo necessário se fazer o acréscimo da proteína, com o farelo de soja ou a torta de algodão.

A fôrma de zinco (veja no quadro “Confecção da fôrma”), quando não está em uso, pode ser enrolada e é facilmente transportada até mesmo na garupa de uma moto.

A compactação da forragem picada deve ser bem feita, partindo do centro do círculo para as bordas

Local e preparação – Para facilitar o fornecimento diário do volumoso preservado, o ideal é confeccionar o silo próximo ao local onde ficarão os animais. Não é indicado sob árvores, pois galhos poderão cair e perfurar a lona, não havendo restrições quanto ao fato de ficar a pleno sol.

Para proteger a silagem do contato direto com a terra, é recomendado que se faça, antes, a cobertura do local com uma camada de casca de arroz ou qualquer tipo de palha que, depois de compactada, fique com cerca de 5 centímetros de altura. Sousa comenta que não se deve cobrir o chão com material plástico, pois não deixará fluir o excesso de umidade do material ensilado, o que causaria acúmulo e apodrecimento da forragem.

Para o processamento da matéria verde, pode ser utilizada tanto uma desintegradora de forragem como uma picadeira para silagem. No entanto, segundo Sousa, a primeira opção não resulta num corte com fibras de tamanho tão homogêneo como a segunda. 

O tamanho das fibras, independentemente do material, poderá ser de 0,5 até 1,5 centímetro de comprimento, sendo importante que a faca e a contra-faca dos equipamentos estejam bem amoladas para efetivamente fazerem um bom corte do material.

“Os inoculantes comerciais dão uma margem de segurança maior para a silagem”, diz Sousa. Ele afirma que sua aplicação não é obrigatória, mas é o ideal, pois se consegue uma fermentação mais completa e uma silagem de melhor qualidade. Na região, diz que uma embalagem de inoculante para uso em 50 toneladas de material custa ao redor de R$ 180,00, o que significa o gasto de R$ 3,60/tonelada, o que considera pouco por seus benefícios.

O extensionista discorda de produtores que, na silagem de capim, misturam fubá de milho para ajudar na fermentação. Isso pelo fato de ser um produto de custo elevado, que teria um uso mais seguro e adequado pelo fornecimento direto no cocho, quando não estaria sujeito a possíveis perdas na própria silagem. Se com outros materiais a aplicação do inoculante é opcional, enfatiza que, com a cana-de-açúcar, é obrigatório para inibir a fermentação alcoólica, que acarretaria a perda do volumoso.

Durante a compactação, um detalhe que Sousa chama a atenção está relacionado ao sentido do pisoteio. Este deve começar do centro da circunferência para as bordas, de maneira regular e cuidando-se para que fique bem nivelado. O técnico comenta que à medida que o material vai sendo socado a fôrma vai naturalmente subindo e se soltando.

Antes da colocação da lona própria para silo, faz-se uma pequena vala ao redor, para que as bordas da lona sejam protegidas com uma camada de terra por cima

Fechamento e uso – Por segurança, para se evitar a ocorrência de chuvas ou a umidade noturna, o técnico sugere que o silo seja finalizado no mesmo dia em que foi começado, mas, caso não seja possível, diz que se deve cobri-lo até a retomada do trabalho, no dia seguinte. Outra sugestão importante, que inclusive viabiliza a rapidez do trabalho, é o bom planejamento da atividade, já providenciando no dia anterior tudo o que será necessário, como amolação das facas de corte, inoculante, corda, lona e outros materiais. A época recomendada para fazê-lo é na época das águas ou ao seu fim, quando existe bastante material verde disponível.

Para o fechamento do silo, o técnico tem recomendado o uso de lonas específicas preto-e-branco, com 200 micras de espessura, a mesma empregada em outros tipos de silo, com a sua face preta voltada para o interior. É indicado que se faça uma pequena vala ao redor do silo, para que as bordas da lona sejam aí colocadas e assentadas ao final, com uma camada de terra por cima para garantir boa vedação.

Para a amarração, Souza aconselha o emprego de corda de seda com a grossura parecida com a empregada em varais de roupa. “Esse tipo de material vai resistir até a abertura do silo, pois, se for mais fraco, pode arrebentar sob a ação do tempo e se perderá todo o trabalho”, alerta. Antes de começar, a corda pode ser cortada em várias tiras que deem a volta completa no silo, iniciando-se as amarrações de cima para baixo e mantendo-se um espaçamento de 25 cm entre uma corda e outra. A amarração deve garantir que todo o ar seja expulso.

Para iniciar, a lona deve ser jogada sobre o silo e receber uma camada de terra em sua parte superior, garantido um contato próximo da cobertura com a silagem. É essencial que depois de pronto o silo fique protegido por uma cerca, de modo a evitar que animais como galinhas e cachorros tenham acesso a ele e possam provocar danos na lona, o que propiciará a entrada de oxigênio.

A abertura e o uso do silo pode se iniciar após 30 dias de seu fechamento, embora existam pesquisas indicando os 40 dias, como lembra o extensionista. Os cortes devem ser feitos de cima para baixo através de fatias laterais com no mínimo 15 centímetros de espessura. Ele deve ser aberto e fechado após o uso todos os dias, com uma durabilidade estimada de um mês.

Um produtor da região identificou que, com esse abre e fecha, ocorria a entrada de ar pelas laterais da lona, comprometendo parte do material. Assim, a solução encontrada para diminuir o problema foi, na abertura do silo, amarrar as cordas da vedação a dois pedaços de paus de eucalipto dando sustentação a elas, sendo afastados na hora da abertura e depois unidos e fincados no chão quando do fechamento do silo, ajudando a manter a fixação da lona, como explica o técnico.

Quem sabe usa – A Fazenda Buritizinho, em Brasília de Minas, utiliza o silo cincho há cerca de 15 anos com milho, sorgo ou capiaçu. Antes disso, a produção de leite praticamente se limitava ao período das águas, quando existia mais forragem disponível, pois, no período seco, os animais simplesmente ficavam soltos para aproveitar o que ainda restava de pasto.

Propriedade familiar com 20 hectares, em maio produzia entre 70 e 75 litros de leite/dia com seis vacas Girolandas em lactação, mas na média do ano chega a tirar um pouco mais, 100 litros/dia. Com piquetes formados basicamente de capim mombaça, a principal atividade é o leite, embora tenha pequena área irrigada de milho para produção de silagem e venda de espigas. Na safra, o produtor costuma retirar 10% delas para a comercialização, o que barateia o custo do volumoso sem comprometer sua qualidade, que é fornecido aos animais na seca junto com o concentrado.

Valdir Ferreira de Aquino, seu proprietário, conheceu o silo cincho por intermédio da Emater-MG e o utiliza desde então, pela facilidade de confecção, dispensa de trator e baixo custo. “Quando se tem poucos animais, com um silo grande você acaba perdendo a silagem logo, enquanto com o outro você usa na medida da sua necessidade e não perde material”, avalia. Mas ele também se vale do silo de superfície quando tem mais forragem para armazenar, como em quantidades acima de 20 ou 50 toneladas.

Valdir F. de Aquino: “Precisa fazer com carinho, amor, atenção e o bem feito traz seu resultado. O que fica caro hoje é o barato mal feito”

No entanto, o produtor avalia que, com o cincho, obtém um silo mais bem feito e com menos perdas, pois é de tamanho menor e consegue fazê-lo com mais cuidado na compactação, na cobertura e na hora de retirar a silagem, realizada através de uma pequena abertura. “Precisa fazer com carinho, amor, atenção e o bem feito traz seu resultado. O que fica caro hoje é o barato mal feito”, ensina.

A fôrma de zinco que utiliza foi construída na fazenda sem problema nenhum, por sua simplicidade. Ele acrescenta que, com a orientação da extensão, não enfrentou grandes dificuldades nos primeiros silos que fez. Aquino lembra que já chegou a confeccionar de quatro a cinco silos num mesmo ano e outros com alturas de 1,8 até 2 metros.

O produtor comenta que tem observado que algumas propriedades erram ao instalar a cultura do milho para ensilar sem aplicação de adubo e a realização do plantio em curva de nível, como faz. Também diz que existem os que, por uma pequena economia, optam por uma lona de pior qualidade, resultando na perda do trabalho.

Nos planos de Valdir Aquino está o aumento da produção de leite e, para isso, vai precisar de mais silagem, pensando então em adotar o silo do tipo trincheira. Mas garante que continuará a fazer uso do cincho para situações específicas, como na alimentação da cria e na recria quando demanda quantidades menores de material. “Tenho minha fôrma e sem ele não fico, não”, afirma o produtor.

CONFECÇÃO DA FÔRMA

 

Para a montagem do silo cincho é necessário dispor de uma fôrma de metal que não é encontrada no mercado e pode ser feita na propriedade. Abaixo, estão relacionados o material necessário e informações básicas para sua construção, constando dois tipos diferentes de fechamento, sendo o de mais fácil operação aquele que imita um sistema de encaixe do tipo dobradiça. O custo aproximado do material, tendo por base preços de maio do comércio de Brasília de Minas (MG), foi de R$ 450.

Material necessário:

• 10 m de chapa de zinco 0,43 mm x 0,50 m (fôrma de 3,18 m de diâmetro);
• 2 barras de ferro de 4,2 mm;
• 1 m de cantoneira 3/4 x 1/8 mm;
• 3 parafusos 5/16 x 2 cm dotados de porca. Para o fechamento tipo dobradiça, 0,5 m de tubo e 0,7 m de vergalhão 3/8.

Construção:

1) Dobrar a borda da chapa preenchendo com o ferro de 4,2 mm as duas extremidades no sentido do comprimento;
2) Cortar a cantoneira em duas peças de 0,5 m e fazer três furos em cada peça para o sistema de fechamento com parafusos e porcas. Para o sistema de dobradiça não é necessários fazer furos.
3) Em cada extremidade da chapa, soldar as peças da cantoneira no ferro de 4,2 mm e arrebitá-las também na chapa. Para o sistema de fechamento tipo dobradiça, soldar os tubos nas cantoneiras. Antes, estes deverão ter sido cortados de maneira a criar encaixe um no outro, tal qual uma dobradiça. É através deles que se passará o vergalhão móvel em formato de “T” para a união das duas extremidades da chapa.
4) Para o fechamento do sistema dobradiça, pegar 0,70 m do vergalhão e cortar 10 cm para soldar em sua ponta, criando um “T”. Sobrarão 10 cm na ponta do vergalhão que é utilizado para ser fincado na camada de baixo, dando firmeza.

(Fonte: Manoel Milton Pereira de Sousa e Luiz Aroldo de Oliveira Almeida, Emater MG. Adaptação Balde Branco.)

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