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Colheita das espigas, com plataforma despigadora acoplada a uma colhedora autopropelida

SILAGEM DE ESPIGAS

SNAPLAGE

Opção para adensar a dieta das vacas leiteiras

Rico em energia (alto teor de amido) e fibras, esse alimento traz diversas vantagens para o produtor – do rendimento da lavoura à formulação da dieta das vacas

João Antônio dos Santos

Os produtores de leite que fazem silagem de milho têm, de uns tempo para cá, mais uma alternativa para aproveitar o potencial nutritivo do milho, sendo um alimento energético (mais amido disponível) e rico em fibras. Trata-se da tecnologia snaplage – no termo em português, “silagem de espigas” –, que consiste basicamente em três frações da planta de milho: grãos, palha e sabugo. Os grãos compreendem em média 75% da espiga; a palha 15%, e o sabugo 10%. Essas proporções vão variar de acordo com o híbrido e com a maturidade da espiga no momento da colheita. Durante o processo de colheita, pode haver uma “contaminação” com partes do colmo e folha. Essa contaminação é influenciada por diversos fatores, como população de plantas, velocidade e ajuste da colhedora no momento da colheita e matéria seca da cultura.

A zootecnista Luciana Miranda Lima, da Insilo Consultoria, ressalta que, em termos agronômicos, comparada com a silagem de grãos úmidos, a silagem de espigas produz em torno de 15% a 20% a mais, o que automaticamente melhora/reduz os custos de produção. Além disso, evita a operação de moagem (grãos úmidos) ou de adição de água (grãos reconstituídos), o que facilita o trabalho de produção.

Massa composta por grãos que compreendem, em média, a 75% da espiga, 15% de palha e 10% de sabugo

Se optar por esse tipo de silagem, o produtor precisa saber que também que é necessário escolher o híbrido de milho adequado. “O melhor híbrido é aquele que alia alta produtividade de grãos com boa sanidade. Em várias regiões do País, temos diferentes híbridos que variam entre estes e outros fatores, e escolher o mais produtivo dilui os custos fixos de produção, além de se produzir mais alimento por unidade de área.” Ela acrescenta ainda que, por outro lado, híbridos doentes oneram os custos de produção, uma vez que mais defensivos agrícolas deverão ser utilizados para “proteger” a cultura. Além disso, híbridos doentes pioram o valor nutritivo do alimento a ser fornecido.

Um ponto muito importante que merece toda a atenção do produtor é monitorar a umidade dos grãos, sempre. O ideal é colher quando a espiga estiver com 65% de matéria seca. E como saber? Para isso, é preciso verificar a matéria seca dos grãos da maneira mais viável na própria propriedade. Segundo Luciana, depois disso deve-se adicionar de 5% a 7%. “Um exemplo: se a matéria seca dos grãos for 60%, a sua espiga terá em torno de 65% de matéria seca. Um intervalo entre 63% e 68% de matéria seca é considerado aceitável para a silagem de espigas”, explica.

E algo mais que o produtor precisa ter em mente: se por algum motivo não der para colher no momento ideal, é recomendado colher próximo de 60% de matéria seca do que de 70%, pois a espiga mais seca afeta a fermentação, a digestão do amido e a efetividade do inoculante.

Luciana explica que, para se fazer a silagem de espigas, é necessária uma plataforma despigadora acoplada a uma colhedora autopropelida. “A plataforma despigadora puxará a planta de milho para baixo e um sistema de correntes e torpedos, que giram simultaneamente, prende a espiga na plataforma, e uma rosca-sem-fim traz a espiga para dentro da máquina e todo o processo de picagem ocorrerá normalmente, como em uma silagem de planta inteira.”

Luciana faz questão de chamar a atenção para um ponto fundamental para a qualidade da silagem de espigas: a máquina deve estar bem ajustada para que os grãos sejam completamente quebrados (primeira diretriz da colheita: quebrar grãos). Ou seja: para a silagem de espigas não é permitido ter grãos inteiros. “Além disso, as facas da colhedora devem estar bem afiadas para que o material fibroso (palha e sabugo) seja bem processado, evitando partículas muito grandes, o que pode causar seleção pelos animais.”

Na sequência, todo o processo de compactação e vedação segue as diretrizes de qualquer outra silagem. O material que chega ao silo deve ser espalhado e muito bem compactado, para que o oxigênio seja expulso de maneira eficiente de dentro para fora do silo. Nada muda, desde que este processo seja eficiente. Se o turno de colheita é de 10 hectares/dia, a compactação deve durar 12 horas. Em média 1,2 vez a mais que o turno de colheita, explica ela.

Luciana Lima: "A máquina deve estar bem ajustada para que os grãos sejam completamente quebrados, pois para a silagem de espigas não é permitido grãos inteiros"

IMPORTANTE A MÁQUINA ESTAR BEM AJUSTADA PARA QUE OS GRÃOS SEJAM COMPLETAMENTE QUEBRADOS

A vedação também segue as premissas de um bom manejo na ensilagem. Não economize com a lona. Ela protege o que suas vacas vão comer. “Por ser um material nobre (75% grãos), o produtor deve proteger ao máximo essa silagem. O uso de lonas com barreira ao oxigênio é uma excelente ferramenta de manejo que auxilia o produtor nos cuidados com essa silagem”, recomenda Luciana.

Aditivo para garantir a qualidade – Como se trata de um material nobre e com elevado risco de deterioração, é indicado o uso de inoculantes para este tipo de silagem. Os inoculantes que possuem a bactéria Lactobacillus buchneri são os mais utilizados. Vale destacar, observa a consultora, que há no mercado os inoculantes “combo”, que são uma associação entre bactérias que potencializam a fermentação e o Lactobacillus buchneri. A tomada de decisão e o acompanhamento do processo de ensilagem devem sempre passar pelas mãos de uma assistência técnica ou consultoria especializada.

Desde que não haja entrada de oxigênio, quanto mais tempo o silo ficar fechado é melhor. O mínimo é de 60 dias. Isso porque, à medida que o tempo passa, os microrganismos presentes no silo e as enzimas presentes na planta quebram a matriz proteica que recobre os grânulos de amido no grão, aumentando a disponibilidade deste composto para os animais.
Vale ressaltar ainda que o amido é fonte de energia para as vacas leiteiras, e energia é sinônimo de leite. “Além do aumento da disponibilidade do amido, 60 dias é o tempo mínimo que os microrganismos têm para crescer e produzir seus ácidos, que terão benefícios principalmente no pós-abertura (ácidos que inibem a deterioração aeróbia)”, ressalta Luciana.

Formulação da dieta total – Como a silagem de espigas é um alimento que alia fibra com energia (amido), sua utilização na dieta deve obrigatoriamente passar pelas mãos de um nutricionista e de uma assistência técnica, pois não é um alimento simples em termos nutricionais (químicos e físicos). Exige critério. De maneira geral, possui em média 65% de matéria seca (MS), 20% a 25% de fibra solúvel em detergente neutro (FDN), e 55% a 60% de amido. A digestibilidade total do amido é ao redor de 95% e a digestibilidade ruminal do amido é ao redor de 75%.

Por ser um alimento fermentado, a disponibilidade do amido ocorre de forma rápida quando o alimento chega no rúmen. Sendo assim, o equilíbrio entre fibra e energia é imprescindível para manter a saúde e a produção dos animais. “Vale ressaltar, mais uma vez, que a inserção na dieta, como todo processo de produção e de manejo, deve passar pelas mãos de um nutricionista e de uma assistência técnica de qualidade”, conclui Luciana.

O processo de ensilagem é semelhante ao da silagem de milho planta inteira – precisa ser muito bem feito

Adensando a dieta com a silagem de espigas

A silagem de espiga é um alimento de alta concentração energética, que pode ser comparado ao grão reidratado/úmido, explica o zootecnista Jorge Henrique Carneiro, consultor em nutrição da Dairy Inside, com atuação em fazendas leiteiras, principalmente na região dos Campos Gerais, no sul do Paraná. Esse material possui níveis superiores de amido comparativamente aos da silagem de milho, porém inferiores aos da silagens de grão úmido ou reidratado. “A silagem de espiga se comporta muito mais como um concentrado na dieta do que como um volumoso, e isso deve ser levado em consideração no momento da formulação”, diz o zootecnista. “Na região em que atuo, enquanto a silagem de planta inteira tem apresentado níveis de amido de 32% a 38% de matéria seca, grão úmido, de 69% a 72% de matéria seca, o snaplage apresenta entre 55% e 63% de matéria seca.”

Ele observa que, assim como os demais ingredientes de alta concentração de grão, como o grão úmido ou reidratado de milho/sorgo, o snaplage se mostra como uma opção de baixo custo como concentrado energético na dieta de vacas leiteiras. Para fazendas que precisam terceirizar todo o processo de confecção do grão úmido, por exemplo, o snaplage tem a seguinte a vantagem: simplicidade e rapidez do processo de ensilagem, em alguns cenários, tornando o custo por quilo de amido ou de Mcal de energia mais barato do que o das silagens clássicas de grãos.

Outro ponto interessante é o rendimento por hectare, que é maior que o da silagem de grãos apenas. Assim, fazendas com restrição de área para produção de alimento, mas que mesmo assim fazem algum tipo de silagem de grão, a silagem da espiga pode ser uma estratégia interessante. Significa mais tonelada/matéria seca/hectare para os silos, e pode substituir parte da silagem de milho (reduzir seu uso na dieta), quando em situações de restrição na oferta de volumoso, sinaliza o consultor.

Segundo ele, a alta digestibilidade do amido não é uma exclusividade do snaplage, mas sim de todos os grãos fermentados, mas sem dúvida vale a pena ressaltar: no momento da formulação especificamente, formular com silagens de grão ou de espiga de milho não possui grandes diferenças, uma vez que, com a análise bromatológica do material a ser utilizado em mãos, os níveis nutricionais a serem almejados ou balanceados na dieta serão os mesmos. “Por isso, faço questão de enfatizar a importância de analisar frequentemente a qualidade bromatológica do snaplage para a formulação”, diz ele.

Diferentemente das silagens de grão úmido ou reidratado, que são compostas apenas de grãos e possuem relativamente pequena variação na composição nutricional, o snaplage possui grande variação de fazenda para fazenda, e mesmo dentro do próprio silo. Isso ocorre porque o ponto de ensilagem (umidade), a eficiência da máquina em retirar as folhas da planta (contaminantes), e a própria característica da lavoura vão influenciar na composição bromatológica final do produto. “Ou seja, não dá para formular dietas com snaplage utilizando uma composição bromatológica ‘padrão’ ou tabelada de silagem de espiga. Fazer isso, sem dúvida, será frustrante para o produtor e para o nutricionista em questão, já que a composição do material varia muito de fazenda para fazenda”, nota.

De olho na fibra (FDN) – Outro ponto que Carneiro faz questão de ressaltar é que a silagem de espigas tem uma quantidade de fibra (FDN) importante, oriunda principalmente da palha da espiga e do sabugo. “Ao formularmos a dieta utilizando snaplage, pensando nele como um concentrado como grão úmido/reidratado, temos de tomar cuidado com os níveis de FDN. A fibra desse material não se comporta no rúmen das vacas como a fibra de outros concentrados/subprodutos, como casca de soja, polpa cítrica ou farelo de trigo, que não causam limitação física de consumo”, orienta, acrescentando que o FDN do snaplage se comporta similarmente como a fibra de uma forragem. Ou seja, trata-se de um concentrado com alto amido (energia), porém com fibra que se comporta como forragem. “É importante tomar cuidado com esta fibra para que os níveis de FDN da dieta não limitem a ingestão das vacas”, alerta.

Ele faz um segundo alerta: também são muito importantes os cuidados para evitar que os níveis de amido fermentável na dieta provoquem depressão de gordura do leite ou casos de acidose subclínica. De maneira geral, são as mesmas precauções relacionadas com o uso de grão úmido/reidratado.

De maneira geral, as fazendas às quais Carneiro presta consultoria já produziam a silagem de grão úmido. O que fizeram foi deixar de produzir esse produto que levava mais tempo de ensilagem e de custo mais elevado devido à terceirização total do processo em algumas fazendas, para fazer o snaplage. Essa mudança facilitou muito o processo de ensilagem e reduziu o custo em alguns casos por quilo de amido ensilado.

“Acho importante ressaltar que a silagem de espiga não é um substituto direto da silagem de milho, ela se comporta mais como um concentrado com alto amido, porém com a fibra, que se comporta como uma forragem). Também importante ressaltar que é um alimento mais variável de composição quando comparado à silagem de grão úmido e reidratado, que são alimentos mais constantes. Também importante fazer a avaliação de custo por kg/amido ou Mcal de energia de cada produto antes de trocar silagem de grãos por snaplage, pois nem em todo cenário ela será algo economicamente mais viável”

Painel de silo com silagem de espigas de milho

Ele aponta ainda que algumas propriedades, com limitação de área para a produção de alimentos para os animais e que deixavam de produzir o amido da dieta em casa (comprando de fora o milho moído fino), ao optarem em produzir a silagem de espiga, alcançaram muito bons resultados. Com essa produção conseguiram reduzir custos graças ao maior volume produzido e à parcial redução de inclusão de silagem de milho nas dietas, e de quebra maximizaram o estoque de alimento na fazenda.

As fazendas às quais Carneiro presta consultoria (aproximadamente um total de 2.500 vacas em lactação) produzem esse material há dois anos (duas safras) e estão em constante melhora do processo e da qualidade do produto, “e certamente esses produtores nem pensam em deixar de fazer silagem de espiga de milho”.

Por isso, em sua avaliação, ele acredita que essa é uma ótima alternativa para garantir um alimento altamente energético, com altas concentrações de amido, principalmente para aqueles que possuem limitação de alimentos volumosos, e também para os que não possuem equipamentos próprios para a confecção da silagem de grão úmido/reidratado. “É uma alternativa mais barata em alguns cenários, e mais prática de ensilagem. É necessário, porém, avaliar o cenário de cada fazenda quanto à adoção dessa tecnologia.”

Mais informações: Luciana Lima – insiloconsultoria@gmail.com; tel. (31) 98601-6504; Jorge H. Carneiro, tel. (42) 99114-2755, email: jorgehcarneiro@gmail.com

Jorga H. Carneiro: "Faço questão de enfatizar a importância de analisar frequentemente a qualidade bromatológica do snaplage para a formulação das dietas"

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