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O sorgo ideal para ser ensilado, com o objetivo de alimentar vacas de leite, deve ter altura entre 2,20 e 2,40 m e ter panículas grandes e bem granadas

SILAGEM

Sorgo: Volumoso estratégico

para a bovinocultura leiteira

Saiba como aproveitar o máximo o potencial da segunda cultura anual mais importante para a produção de silagem no Brasil, depois do milho, mas com o benefício do menor custo de produção

Erick Henrique

Há tempos conhecido dos pecuaristas de leite e corte, o sorgo tem sido um alimento muito importante na alimentação dos bovinos. Por isso, tem ganhado espaço nesses tempos de crise climática e do custo elevado da dieta das vacas leiteiras. Publicação do Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo (IZ/Apta), de autoria de Josiane Aparecida de Lima, pesquisadora científica, destaca as vantagens desse alimento, que pode ser utilizado tanto para a produção de grãos como para forragem no pastejo ou conservação na forma de silagem ou feno. É uma cultura que produz silagens com boas características fermentativas e se destaca por ser um volumoso com adequada concentração de carboidratos solúveis, essenciais para a fermentação lática.

Conforme dados do IZ, depois do milho, o sorgo é a cultura anual mais importante para a confecção de silagem, pois possibilita produção economicamente viável (alta produção por unidade de área), possui bom valor energético e níveis médios de proteína (cerca de 8% de proteína bruta). Outra característica importante do sorgo é a sua boa adaptação às variadas condições de clima e de solo.

A silagem de sorgo tem importância estratégica, segundo o artigo da pesquisadora Josiane Lima, pois, quando é produzida com base nos princípios básicos para obtenção de silagem de boa qualidade, apresenta valor nutritivo equiparado ao da silagem de milho, com a principal vantagem do menor custo de produção, uma vez que a produtividade do sorgo é maior que a do milho.

Silagem de sorgo é um item importante e estratégico para garantir alimento de qualidade na fazenda leiteira

Para o agrônomo Jackson Silva e Oliveira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, o suplemento volumoso é um item essencial dentro de qualquer sistema de produção de leite ou carne, e a silagem é o suplemento mais utilizado pelos produtores, em especial a de milho e de sorgo.

“O risco em fazer silagem de milho tem aumentado muito nos últimos anos devido às incertezas climáticas, especialmente a falta de chuva. Nesse cenário, a silagem de sorgo vem ocupando espaço, mesmo em regiões tradicionais no plantio de milho. Isso se deve à melhor adaptação do sorgo em áreas de baixa precipitação e naquelas sujeitas a veranicos prolongados”, explica o pesquisador da EGL, com doutorado em nutrição animal na Universidade do Arizona, (EUA).

Dicas do especialista – Para evitar equívocos em todas as etapas do processo de produção de silagem de sorgo, visando obter a máxima qualidade do volumoso que será oferecido para o rebanho leiteiro, Oliveira destaca as principais técnicas, a começar com o preparo do solo. Segundo ele, o solo onde será estabelecida a lavoura deve ser analisado com antecedência para que, caso haja necessidade de calagem, ela possa ser feita com, no mínimo, 60 dias antes do plantio previsto. As demais informações da análise devem servir como base para as adubações de plantio e de cobertura.

Jackson Silva e Oliveira: "A silagem de sorgo vem ocupando espaço, mesmo em regiões tradicionais no plantio de milho"

A espessura da camada de silagem retirada diariamente não deve ser inferior a 20 cm

A escolha do híbrido – O pesquisador ressalta que há diferentes tipos de sorgo no mercado. Os graníferos, de porte mais baixo, apresentam menor produção de massa total, o que aumenta o custo da tonelada de forragem colhida. Os denominados forrageiros são extremamente altos e têm pouco grão, o que leva a uma silagem com uma porcentagem elevada de fibra. Além disso, devido ao porte, o ciclo deles é bem maior, demandando 130-150 dias para ser colhido.

“O sorgo ideal para ser ensilado, com o objetivo de alimentar vacas de leite, deve ter altura entre 2,20 e 2,40 metros e ter panículas grandes e bem granadas. São os chamados sorgo de duplo propósito. Além de ter essas características, é importante que o híbrido esteja adaptado à região onde será plantado”, aponta Oliveira. Além disso, segundo ele assinala, a quantidade de sementes a ser colocada no solo é muito importante. Para isso, regular a plantadeira é essencial, sem esquecer que o plantio deve ser feito com paciência, ou seja, o tratorista deve usar uma velocidade baixa para garantir que o estande final saia como planejado.

PONTOS PRINCIPAIS

Segundo o pesquisador da Embrapa, nesse objetivo de produzir e garantir uma boa silagem de sorgo para as vacas, sobretudo no período seco do ano, a ensilagem do volumoso precisa seguir quatro pontos principais:

1. Colher na hora certa (30%-35% de MS);
2. Picar no tamanho correto, ou seja, partículas com tamanho médio entre 8 e 12 mm. Manter as facas da ensiladeira sempre afiadas para obter um corte perfeito;
3. Compactar bem. Mas nunca compactar antes de espalhar a forragem descarregada pelo trator. O espalhamento melhora muito a eficiência da compactação. A altura de cada camada espalhada não deve ser maior que 20 cm;
4. Fazer boa vedação com lona (polietileno) de boa qualidade, com espessura mínima de 200 micras e tratamento anti-UV. Dê preferência às lonas de dupla face, deixando a face branca exposta ao sol. É muito importante colocar pesos sobre a lona para mantê-la em contato com a camada superior da silagem. Atenção: se usar lona preta é obrigatório cobri-la para que fique protegida dos raios solares, usando capim seco, areia ou terra.

(Fonte: Jackson Silva e Oliveira – Pesquisador da Embrapa Gado de Leite)

A época mais adequada para a colheita do sorgo para ensilar corresponde àquela em que os grãos estão no ponto pastoso-farináceo

De olho na época da semeadura – A semeadura do sorgo, no que se refere à época, coincide com a que é indicada para o milho, ou seja, início do período das chuvas. “Agora, para que a produtividade seja adequada, a recomendação de densidade dos sorgos ‘duplo propósito’ pode variar de 140 mil a 170 mil plantas/hectare. Associado à densidade de plantio está o espaçamento entre fileiras, que, no Brasil, usamos, como padrão, 70 cm”, esclarece Oliveira.

Entretanto, observa ele, verifica-se uma tendência de se utilizarem espaçamentos reduzidos. Daí que vale a pena o produtor ficar atento à orientação que vem no rótulo da embalagem da semente, pois sempre são especificadas as recomendações de densidade e espaçamento.

De acordo com a pesquisadora do IZ, é importante salientar que a quantidade de sementes varia com o tipo de sorgo utilizado e com a população desejada. Geralmente, são necessários de 8 a 10 kg de sementes/ha, as quais devem ser colocadas a uma profundidade de 3 cm. Recomenda-se utilizar 30% de sementes a mais por área, visando evitar perdas de área com sementes não germinadas. Muitas vezes, as maiores perdas ocorrem em conseqüência do preparo inadequado do solo, o que afeta a germinação, devido ao pequeno tamanho das sementes. Por essa razão, é importante que o preparo do solo seja feito cuidadosamente.

 

Cuidados com a colheita – Segundo o estudo do IZ, a época mais adequada para a colheita do sorgo para ensilar corresponde àquela em que os grãos estão no ponto pastoso-farináceo, o que geralmente coincide com o teor de matéria seca em torno de 30%. Colheitas mais tardias resultam em redução no valor nutritivo e em perda de grãos no campo, sendo que o valor nutritivo também pode reduzir, uma vez que grãos mais maduros têm maior possibilidade de serem eliminados inteiros nas fezes dos animais.

Oliveira, por sua vez, destaca também que a colheita da lavoura de sorgo (e de milho) para silagem deve ser feita com base no teor de MS presente nas plantas. “Medir isso na fazenda é muito simples, bastando ter um forno de micro-ondas e uma balança. Faça a determinação de MS semanalmente e ensile quando ela estiver entre 30% e 35%. Na homepage da Embrapa Gado de Leite há uma publicação que mostra o passo a passo de como fazer essa determinação e que pode ser baixada gratuitamente.”

Com relação à colheita propriamente dita, conforme a publicação do Instituto de Zootecnia, esta pode ser manual, para pequenas áreas de produção, ou mecânica, para áreas maiores. Na colheita manual, as plantas são cortadas no campo, com auxílio de ferramentas de uso manual, e devem ser picadas próximo ao silo em picadoras estacionárias. Na colheita mecânica, utilizam-se as ensiladeiras tracionadas por trator, que realizam o corte e fragmentam o material.

Algumas vantagens do sorgo em relação ao milho

• Os rendimentos de forragem verde em ótimas condições de clima e de fertilidade podem superar os obtidos com o milho. Há variedades de alta produção (sorgos forrageiros) que podem produzir cerca de 100 t/ha de massa verde, em dois cortes;
• Menor exigência quanto ao tipo e à fertilidade do solo;
• Capacidade para suportar extensos períodos de falta de água e rebrotar rapidamente depois da ocorrência de chuvas que umedecem suficientemente o solo;
• Adapta-se melhor que o milho em regiões onde há escassez de chuvas;
• Não é sujeito a roubos, como ocorre com as espigas de
milho; no entanto, pelo fato de ter os grãos expostos,
sofre intenso ataque
de pássaros.

Fonte: IZ/APTA

Na colheita do sorgo para produção de silagem, a planta é submetida ao corte basal, e isso faz com que o meristema apical seja eliminado. Assim, o perfilhamento é estimulado, promovendo o desenvolvimento das gemas basais presentes na coroa da planta, que darão origem aos novos perfilhos responsáveis pela produção da rebrota. Se houver condições climáticas e de fertilidade favoráveis, a rebrota do sorgo poderá atingir produções satisfatórias.

“Uma boa lavoura de sorgo ‘duplo propósito’ deve produzir, no mínimo, 40 toneladas por hectare de matéria seca, sendo o mais comum alcançar 45-55 t/ha/MS. Em relação ao milho, o menor custo é devido ao menor valor da semente. Mas o que vem pesando na escolha dos produtores pelo sorgo é o menor risco climático”, avalia Oliveira.

De acordo com os pesquisadores do IZ, a produção de silagem de boa qualidade é condicionada a critérios específicos para cada etapa do processo. Na abertura do silo e na utilização da silagem não é diferente e essa prática deve ser executada com capricho, para que a qualidade e o valor nutritivo da silagem sejam preservados.

Sendo assim, todos os cuidados necessários para obter silagem de boa qualidade se refletem positivamente na estabilidade da silagem após a abertura do silo. Forragem com tamanho adequado de partícula, compactação eficiente, enchimento rápido e vedação correta do silo são práticas que asseguram fermentação adequada, com predominância de ácidos que conferem estabilidade à silagem quando esta é exposta ao ar.

Além disso, ao abrir o silo, o instituto alerta que, em primeiro lugar, deve-se observar o aspecto da silagem e, se houver presença de porções com mofos, bolores, coloração muito escura e cheiro desagradável, estas devem ser descartadas. Outro cuidado que deve ser criteriosamente observado refere-se à espessura da camada de silagem retirada diariamente: e esse não deve ser inferior a 20 cm, pois dessa forma a retirada da silagem caminha mais rápido que a penetração de ar entre as partículas.

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