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LEITE EM NÚMEROS

Denis Teixeira da Rocha

Analista da Embrapa Gado de Leite

SUPRIMENTO DE LEITE

no mercado brasileiro em 2020

O mercado de leite no Brasil tem registrado alterações importantes no comportamento da oferta ao longo de 2020. Apesar da demanda mais aquecida em relação ao esperado no início da pandemia, as variações na disponibilidade de leite por habitante têm provocado mudanças nas expectativas de suprimento e, consequentemente, na formação dos preços.

Os dados preliminares sobre a produção de leite inspecionado, divulgados pelo IBGE no dia 12 de novembro, permitem fazer uma avaliação do suprimento de leite de janeiro até setembro deste ano e comparar com o ano passado. Em termos gerais, o que se viu foi uma oferta menor no primeiro semestre, seguida de um crescimento maior no terceiro trimestre.

No caso da disponibilidade de leite, a Tabela 1 ilustra os principais números, lembrando que a disponibilidade total se refere à soma da produção interna com a importação, subtraída das exportações. Ou seja, o que de fato fica disponível para os consumidores.

1º Trimestre

No primeiro trimestre de 2020, em relação a igual trimestre de 2019, houve um pequeno crescimento da disponibilidade total sustentado por um aumento de 152 milhões de litros na comparação com o primeiro trimestre de 2019. Isso equivale a uma alta de 2,46%. Vale lembrar que em 2020 o mês de fevereiro teve um dia a mais e, fazendo o respectivo ajuste por dia, o crescimento da produção seria de 1,3%. Ou seja, um crescimento relativamente modesto, já refletindo a baixa rentabilidade do produtor de leite no início do ano. Por outro lado, com preços internos menores e uma taxa de câmbio se desvalorizando (em real por dólar), a importação registrou queda no trimestre, contribuindo para manter a disponibilidade por habitante estável. Neste trimestre, o Brasil importou apenas 3,5% da produção nacional.

2º Trimestre

Já no segundo trimestre de 2020 o cenário foi completamente distinto, com praticamente todos os componentes da oferta recuando. A produção nacional diminuiu em quase 107 milhões de litros em relação ao segundo trimestre de 2019. A baixa rentabilidade dos produtores e a seca que castigou as pastagens no Rio Grande do Sul culminaram nesta queda da produção. No caso das importações, o recuo foi ainda maior, com retração de praticamente 116 milhões de litros de leite. A desvalorização cambial em relação a igual trimestre de 2019 (R$ 3,92/dólar para R$ 5,39/dólar em 2020) deixou o produto importado menos competitivo, levando o País a importar o equivalente a apenas 2,7% da produção brasileira. Com isso, a disponibilidade total diminuiu 226 milhões de litros na comparação com 2019. Já a disponibilidade per capita caiu 1,3 litro, enquanto a demanda se aquecia com a injeção de recursos do auxílio emergencial.

3º Trimestre

Finalmente, o terceiro trimestre trouxe mais algumas mudanças no suprimento da matéria-prima. Os preços de leite e derivados atingiram suas máximas históricas. No mercado spot, o leite chegou a R$ 2,76/litro em Minas Gerais. A valorização do preço ao produtor acabou estimulando a oferta, mesmo com custos da alimentação do rebanho mais altos. Mas o adicional de produção não foi acentuado.

A diferença neste trimestre veio mesmo das importações. Com os preços da matéria-prima nacional mais altos e preços de derivados (leite em pó e queijo muçarela) mais competitivos na Argentina e no Uruguai, o volume importado subiu significativamente, atingindo 6,6% da produção. Embora em volumes menores, a exportação também se elevou em virtude da desvalorização do câmbio.

A disponibilidade total de leite no trimestre aumentou 245 milhões de litros, sendo 166 milhões oriundos da importação. Desta forma, o forte incremento das importações, aliado ao aumento sazonal da produção nas principais regiões brasileiras, acabou colocando uma pressão mais baixista nos preços de leite e derivados a partir do fim de setembro.

Mesmo assim, olhando o ano como um todo, a disponibilidade de leite está bem limitada. É crescente a expectativa de que a safra do Sudeste não será tão grande como se esperava: primeiro por causa da elevação dos custos do concentrado em função da escalada dos preços do milho e da soja; segundo, pelo atraso e pela irregularidade das chuvas nas principais regiões produtoras e seus efeitos negativos na recuperação das pastagens. Além disso, há que se considerar o fenômeno climático La Niña já afetando o Sul do Brasil, com uma forte estiagem na região oeste do Rio Grande do Sul, uma das principais bacias leiteiras do Estado. Enfim, neste quarto trimestre pode-se esperar mais mudanças importantes para o setor lácteo nacional.

Coautores: Denis Teixeira da Rocha, analista da Embrapa Gado de Leite; João César de Resende, pesquisador da Embrapa Gado de Leite

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