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Sistema de compost barn, que propicia maior conforto térmico para as vacas, exige maior atenção do produtor

TECNOLOGIA

COMPOST BARN

com sistema de ventilação em túnel

Pesquisa mostra as opiniões de produtores – satisfeitos e insatisfeitos – que utilizam essa tecnologia, apontando os prós e os contras de sua experiência com a tecnologia

João Antônio dos Santos

Na medida em que se amplia a adoção de sistemas de produção de leite mais controlados no Brasil, também vêm se intensificando os questionamentos por parte dos produtores quanto à real aplicabilidade de galpões fechados para as condições climáticas do País. Nesse sentido, recentemente vêm sendo observadas reclamações de produtores de leite que adotaram o sistema compost barn (CB) conduzido em galpões fechados e climatizados por sistema de ventilação por pressão negativa em modo túnel. “Esse sistema busca garantir uma ventilação mais uniforme e que proporcione melhores condições de conforto no interior das instalações que abrigam os animais, principalmente durante os períodos mais quentes do dia e do ano”, assinala Rafaella Resende Andrade, engenheira agrícola e doutoranda na Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Com o objetivo de trazer mais informações para os produtores de leite, Rafaella, em sua tese de doutorado, sob a orientação dos professores Ilda de Fátima Ferreira Tinôco (UFV), Flávio Alves Damasceno (Ufla) e Matteo Barbari (Universidade de Florença, na Itália), dedica-se a analisar o sistema de compost barn sob as condições climáticas do Brasil e entender os principais reflexos no bem-estar e na produção dos animais. Como parte de seu estudo, ela entrou em contato com diversos produtores no Brasil que adotaram o sistema para conhecer suas experiências com a utilização desse tipo de instalação.

Rafaella comenta que, embora há cerca de 30 anos esse tipo de instalação já venha sendo empregado por grande parte dos produtores de aves e suínos do País, o fato é que a adoção da ventilação por pressão negativa em modo túnel é relativamente nova em sistema de confinamento para vacas leiteiras. “O projeto pioneiro de utilização da ventilação por pressão negativa em modo túnel em instalações fechadas de compost barn foi construído no Estado de Minas Gerais, em 2015, e desde então vem se difundindo em diversas regiões brasileiras.”

Ela explica que, nesse sistema, exaustores posicionados numa das extremidades do alojamento succionam o ar interno do alojamento, gerando uma pressão negativa (vácuo parcial), o que força o ar externo a entrar através de aberturas posicionadas na extremidade oposta (Figura 1), criando assim o efeito túnel de vento, que garante a renovação do ar interno.

Para a redução da temperatura do ar de entrada e, consequentemente, da temperatura no interior do alojamento, as aberturas de entrada do ar são munidas com placas porosas umedecidas, que possibilitam o resfriamento adiabático do ar em até 11 graus Celsius para as regiões de climas mais quentes e secos. Dessa forma, no sistema túnel de ventilação, os exaustores são instalados em uma das extremidades da edificação, enquanto a entrada de ar é posicionada na extremidade oposta.

Por sua vez, o professor Flávio Damasceno, do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), observa que, neste sistema de criação animal climatizado, o prévio resfriamento do ar ocorrido ao se forçar a passagem do ar externo através de placas com material poroso umedecido deve ser realizado com cautela. “O fato é que, embora possibilite redução substancial da temperatura do ar, ocorre consequente aumento da umidade relativa do ar, podendo reduzir a quantidade de calor dissipado pelo animal na forma evaporativa”, diz, acrescentando que esse aumento da umidade relativa do ar, se extremo, também pode umedecer excessivamente a cama do galpão. Isso torna-se um fator limitante que dificultará o manejo da cama, podendo influenciar negativamente na higiene dos animais, na qualidade do leite, no processo de compostagem da cama e no aumento da emissão de gases nocivos, principalmente amônia (NH3). “Todos esses fatores necessitam, portanto, ser bem analisados para a adequada montagem do sistema”, alerta o professor.

Rafaella Andrade: "É fundamental o produtor procurar consultoria técnica especializada para a elaboração do projeto da instalação adequado às condições da propriedade"

Extremidade por onde entra o ar com placa de resfriamento evaporativo

Em seu estudo, Rafaella entrevistou diversos produtores para saber o grau de satisfação com o sistema CB fechado, tempo de instalação, aspectos gerais e estratégias que vêm sendo adotadas com base em suas experiências, dentre outros.

Ela observa que os produtores que optaram pelo sistema compost barn fechado relataram ter migrado do sistema de semiconfinamento, confinamento em free-stall, ou até mesmo do compost barn convencional com o objetivo de construir um modelo inovador de galpão, que fosse viável economicamente. E assim obter maior eficiência produtiva e um futuro promissor para a atividade; garantir melhores condições de conforto térmico e, por fim, conseguir significativo aumento da produção e reprodução.

Entre os produtores entrevistados, o tempo de instalação do sistema variou de 3 a 54 meses (Figura 2), sendo que 50% deles responderam que estavam muito satisfeitos com a instalação, 16,7% estavam insatisfeitos e 33,3%, muito insatisfeitos (Figura 3).

Produtores satisfeitos – Em relação aos que se disseram muito satisfeitos com o sistema de compost barn fechado, identificou-se como principal ponto positivo o conforto térmico do ambiente das vacas, ao qual foi atribuído aumento produtivo e reprodutivo, e estabilidade de produção, tanto no verão quanto no inverno. Também foi destacada a facilidade de manejo dos animais nesse sistema.

Entretanto, eles apontaram a principal dificuldade: manter a cama em níveis adequados de umidade, o que elevou o custo de manutenção e tornou mais difícil conseguir a quantidade suficiente de material de cama para reposição constante, principalmente durante os períodos de chuva.

Verificou-se que, nas instalações de compost barn fechadas e climatizadas, o manejo adequado da cama, de forma a evitar sua excessiva umidade, tem sido considerado um dos pontos chaves para o sucesso desse sistema. O revolvimento da cama tem sido realizado seguindo-se a mesma recomendação do sistema compost barn aberto, ou seja, de duas a três vezes por dia, geralmente no horário da ordenha.

Rafaella nota que a maravalha, serragem e/ou casca de café foram os materiais mais empregados na cama. “Poucos produtores citaram o uso da casca de arroz e, mesmo assim, quando utilizada, em quantidades reduzidas e com certa cautela. Contudo, observamos que o material da cama a ser utilizado é dependente da disponibilidade e do custo nas diferentes épocas do ano.”

Um ponto que chamou a atenção no estudo foi a densidade animal, sendo geralmente destinada área de cama superior a 13 metros quadrados por vaca na maioria dos casos (Figura 4). Produtores que adotaram densidade animal menores, como 10 m² de área de cama/vaca, tiveram problemas com o manejo da cama. A frequência de necessidade de reposição da cama teve valor mínimo de 7 dias e valor máximo de 90 dias.

Em relação à produtividade de leite, o estudo observou que teve predominância o valor médio variando de 31 a 36 kg/vaca/dia (Figura 5).

Produtores insatisfeitos – Entre as limitações relatadas pelos produtores não satisfeitos, alguns disseram ter desistido do sistema fechado devido a fatores como necessidade de grande quantidade de material para a reposição constante de cama; dificuldade em manejar a cama adequadamente e o custo elevado com a alta reposição. A dificuldade aumentou durante períodos de chuvas, sendo necessário repor a cama semanalmente, o que inviabilizou a continuidade de uso do sistema.

Outros problemas relatados por esses produtores foram baixa taxa de reprodução, aumento do descarte por problemas de casco, mastite e elevada incidência de pneumonia. Aumento excessivo da umidade relativa no interior do galpão, principalmente no verão.

Também foi comentado sobre o desgaste rápido da lona utilizada no fechamento das laterais dos galpões, bem como baixo valor do material compostado para utilização na adubação das lavouras. Destacaram ainda que o sistema é altamente dependente de energia elétrica e que, na queda dela, mesmo com a abertura de cortinas, a temperatura do ar interna se eleva consideravelmente, podendo provocar estresse por calor nos animais. Vale reforçar: daí a necessidade de a propriedade dispor de geradores.

Outro ponto observado foi a dificuldade na época de retirar toda a cama da instalação, uma vez que o processo é dificultado devido à presença do forro e defletores no galpão, sendo necessário o uso de tratores adaptados para a sua retirada.

Flávio Damasceno: é preciso muita atenção com a umidade relativa do ar, pois ela pode umedecer excessivamente a cama do galpão, o que causará diversos problemas.

Também foi levantado que algumas instalações apresentaram valores médios de velocidade do ar abaixo de 2 metros por segundo (m/s), considerado bem menor que o recomendando pela literatura como limite suportado adequadamente por bovinos de leite (acima de 3 m/s).

Extremidade do galpão com os exaustores, que sugam o ar interno para fora, provocando a entrada de ar na outra extremidade onde estão as placas de resfriamento

ESTRATÉGIAS PARA O MANEJO CORRETO DO SISTEMA FECHADO

Rafaella cita algumas estratégias adotadas por produtores brasileiros como forma de melhorar o manejo do sistema compost barn fechado:

• Adoção de maior área de cama por animal, sendo igual ou superior a 14 m²/vaca;
• Adoção de densidades diferentes entre os lotes no interior do sistema, de acordo com o clima regional. Ou seja, em regiões mais úmidas recomenda-se adotar uma densidade maior e, em regiões mais secas, densidade menor: por exemplo, perto da placa de resfriamento (material poroso umedecido), adoção de áreas provavelmente iguais ou superiores a 17 m²/vaca, e próximo aos exaustores, 12 m²/vaca;
• Manutenção da placa de resfriamento evaporativo no início e fim do verão, de forma a se evitarem molhamentos;
• Adoção de dois ou três estágios de funcionamento do sistema de resfriamento evaporativo (SRE). Por exemplo: no estágio 1, o sistema seria configurado para que o SRE ficasse desligado se a temperatura do ar externa for igual ou inferior a 10°C e, nesta situação, somente alguns exaustores iriam funcionar (garantindo ventilação mínima para manutenção da qualidade higiênica do ar); no estágio 2, com temperatura do ar entre 11 e 19°C, mais exautores iriam ser acionados e seria ligado o SRE apenas para valores de umidade relativa do ar interno abaixo de 80%, e por fim, no estágio 3, com temperatura acima de 21°C, todos exaustores seriam acionados, mantendo-se o SRE ligado para valores de umidade relativa do ar menores que 80%;
• Adoção de camas com profundidade máxima de 50 cm;
• Colocação da sala de ordenha no interior da instalação, próximo às placas evaporativas (assim, os animais ficam no ambiente climatizado durante todo o tempo e evita-se a entrada e saída de ar quente indesejado no sistema);
• Galpões muito compridos podem dificultar muito o manejo da cama.

 

“O que observamos é uma tendência crescente de modernização e significativa aderência de produtores aos atuais modelos fechados de instalações compost barn em modo túnel climatizado”, assinala Rafaella, ressalvando que na pesquisa se verificou que as opiniões e experiências se contradizem. “Por essa razão, é importante que a elaboração e condução de atividades dos projetos de galpões de compost barn sejam realizadas por profissionais habilitados, que se apoiam em um estudo criterioso sobre local e clima, antes da instalação do sistema.”

O sistema de resfriamento evaporativo tem se mostrado mais eficiente em regiões de clima quente e seco, nota a pesquisadora. Assim, a capacidade de redução da temperatura do ar através do resfriamento evaporativo é significativamente maior, quanto maior for a temperatura e menor for a umidade relativa do ar a ser resfriado. “Contudo, em situação de aumento da umidade relativa do ar, a capacidade de reduzir a sua temperatura por meio do resfriamento evaporativo diminui. Além disso, é essencial que os produtores verifiquem o custo e a disponibilidade de material suficiente para a reposição de cama, entre outros fatores”, arremata Rafaella.

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