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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"A inseminação artificial aumenta a sustentabilidade da propriedade pela maior produtividade de cada vaca. Ajuda muito na gestão da produção de leite com indicadores como taxa de fecundação, previsão de parição, e muitos outros dados"

Tem que impulsionar

A inseminação artificial não é um assunto novo, mas ainda é uma tendência pelo fato de muitos produtores brasileiros não utilizarem essa tecnologia testada e aprovada na obtenção de resultados mais rápidos com menos incertezas. Em 2021, 6% mais doses de sêmen bovino leiteiro foram vendidas, somando as produzidas no Brasil com aquelas importadas. Números apresentados no relatório disponível no site da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) demonstram que permanece a tendência do lento crescimento do uso da inseminação artificial. Nos demais maiores países produtores, mais de 70% das propriedades leiteiras repõem seus rebanhos via inseminação artificial. Na Índia, uma forma adaptada da técnica e apoio governamental é usada em mais de 70 milhões de vacas.

A inseminação artificial aumenta a sustentabilidade da propriedade, pela maior produtividade de cada vaca. Ajuda muito na gestão da produção de leite com indicadores como taxa de fecundação, previsão de parição, e muitos outros dados. Permite selecionar as vacas de melhor potencial. O grau de sangue pode ser mais uniforme. Num ciclo virtuoso, é possível escolher os touros que podem somar qualidades genéticas e, com isso, melhorar o rebanho mais rapidamente. Sua eficácia aumenta de forma categórica com o uso do procedimento em “tempo fixo” ou do sêmen sexado, especialmente para novilhas e fêmeas mais jovens.

O Brasil conta com excelentes programas de melhoramento genético. Os das raças zebuínas Gir Leiteiro, Guzerá e Sindi são pilares para a produção tropical, de rebanhos puros ou mestiços rústicos e produtivos que reduzem a pegada de carbono da atividade. Seus touros provados são usados pelas centrais de inseminação artificial que produzem sêmen de qualidade garantida, comercializado no Brasil e fazendo sucesso mundo afora, inclusive na própria Índia.

Para médios e pequenos produtores, a inseminação artificial é “um procedimento relativamente caro”, feito apenas em propriedades maiores, “com mais renda”. Essa é uma afirmação que parte do pressuposto de ser “barato” manter pelo menos um touro junto às vacas. Entretanto, sua manutenção é traiçoeiramente diluída no rebanho, sem considerar custos difíceis de quantificar, como a possibilidade de o touro transmitir doenças, ou ainda de não ser de fato melhorador da genética do rebanho. E tem a questão do manejo de um animal pesado e temperamental, que pode arrebentar cercas…

Programas comunitários de inseminação artificial operados por prefeituras e por cooperativas fomentam a técnica entre pequenos e médios produtores, com custos reduzidos e mesmo subsidiados. Armazenamento compartilhado das doses de sêmen em botijões comunitários, manutenção do nitrogênio líquido e pagamento pela instituição de um técnico ou de um veterinário capaz de se deslocar rapidamente.

O produtor fica livre para comprar ele mesmo o sêmen de um animal escolhido, ou utilizar aquelas doses adquiridas em maior quantidade pelo programa. Com o advento do celular e da internet, mesmo que o sinal seja apenas no alto do morro, a detecção do cio pode ser comunicada em tempo suficiente para o inseminador chegar até a propriedade. A prestação desse serviço faz com que não seja fundamental, embora sempre desejável, que alguém da propriedade seja inseminador.

Talvez a prática da inseminação artificial não tenha se estabelecido definitivamente nos rebanhos leiteiros brasileiros nem seja adotada mais rapidamente porque todo mundo conhece, mas não dá o devido valor nem considera sua importância estratégica para a evolução da atividade leiteira. Perdemos todos quando, em vez de ser impulsionada por todos os stakeholders da cadeia do leite, a “antiga” inseminação artificial seja considerada fato consumado.

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