balde branco

TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"No sul de Minas, um grupo de produtores de um excelente queijo de leite cru, centrado na cidade de Alagoa, na Serra da Mantiqueira, pratica formas de comercialização ao mesmo tempo tradicionais e inovadoras”

Tendência antiga e moderna

No momento em que todos aguardamos o fim da pandemia de covid-19, a retomada do turismo doméstico abre uma conhecida janela de oportunidades para a organização de arranjos produtivos, incentivados décadas atrás e, no momento, pouco explorados. Cito como exemplo complementar às clássicas cidades históricas e às praias ao longo de mais de 8 mil quilômetros da nossa costa, uma riqueza natural brasileira atualmente relegada, as chamadas “estâncias hidrominerais”.

A tendência da produção de lácteos, especialmente queijos, em regiões para o “tratamento com águas” é antiga, e vem de fora. Na Itália, o queijo Pecorino Romano vem das mesmas montanhas vulcânicas que produzem as águas que abasteciam as termas onde desde os imperadores até os cidadãos comuns se banhavam. Na França, o famoso balneário Vichy é também a região de origem de um famoso queijo mofado, Bleu d’Auvergne. Os exemplos são inúmeros.

Somente no Estado de São Paulo, são 63 estâncias hidrominerais, mas são muitas mais, em todos os Estados brasileiros. Para citar umas poucas, Caxambu e o sul de MG têm a maior concentração hidromineral do planeta, com ótimos balneários; Caldas Novas, em Goiás; Vale do Itapicuru, na Bahia; Caldas da Imperatriz, em SC; Rio São Lourenço, em MT; os fervedouros no Tocantins… Enfim, são centenas de locais para onde afluem consumidores em busca de natureza, saúde e boa comida. E, em todas essas regiões, o leite historicamente é transformado em produtos artesanais, muitos igualmente famosos.

Meu comentário salta do passado das termas romanas para a década de 2000, quando se falava muito em arranjos produtivos locais como forma de alavancar as pequenas indústrias, e dá mais um salto para a agropecuária 4.0, que usa de tecnologias digitais para ampliar os mercados de produtos artesanais de qualidade, com segurança para o consumidor. Esses saltos nos levam a uma realidade no mesmo sul de Minas, onde um grupo de produtores de um excelente queijo de leite cru, centrado na cidade de Alagoa, na Serra da Mantiqueira, pratica formas de comercialização ao mesmo tempo tradicionais e inovadoras.

Junto com a Emater-MG e a Embrapa Gado de Leite, produtores e empresários empreendedores desenvolveram uma ferramenta para a internet que entrega no Brasil inteiro, a preço competitivo, os queijos artesanais cujo processo de produção foi avaliado cientificamente pela Embrapa e parceiros. Esta revista Balde Branco tem reportagens a respeito, descrevendo o estudo que foi a base para a elaboração de protocolos para certificação da produção artesanal em outras regiões mineiras.

A ampliação desse arranjo produtivo local com tecnologia 4.0 deve servir de modelo para que prefeituras e governos estaduais valham-se da tendência antiga de oferecer aos consumidores de regiões turísticas produtos de valor agregado, que vem a ser a moderna economia de ciclo curto, e, pelo efeito da propaganda boca-a-boca e do marketing digital, ampliar o mercado consumidor por meio da entrega à distância, tradução direta do termo inglês “delivery”. A ferramenta para isso já existe, mais um fruto da iniciativa Ideas for Milk, da Embrapa.

Com as novas ferramentas e a capacidade empreendedora de muitos que participam da cadeia produtiva do leite, o fortalecimento de arranjos produtivos envolvendo governos, Sebrae e produtores, divulgando para consumidores mais distantes via ferramentas de delivery com tecnologias digitais, é alternativa viável para a permanência de pequenos e médios produtores na atividade, em benefício do que há de mais original – e saboroso – na cadeia produtiva do leite brasileiro.

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