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Vacas em pastagem de trigo

NUTRIÇÃO

TRIGO

usado como volumoso é alternativa de

alimento para vacas no sul

O uso do trigo para pastejo e produção de silagem no inverno é uma excelente opção de dieta para bovinos leiteiros, considerada de ótimo custo-benefício

Erick Henrique

Renato S. Fontaneli: “Alguns benefícios do trigo: cobertura do solo antecipada na produção de forragem no outono; melhora na oferta de forragem outono/inverno e na produtividade do rebanho, com menor uso de forragem conservada e de soja na ração”

O pecuarista brasileiro, independentemente da região do País, se desdobra para sobreviver ante o sucessivo aumento dos custos de produção, sobretudo no quesito alimentação dos animais. O principal culpado: os preços elevados do milho e farelo de soja – que são a base da dieta do rebanho leiteiro no Brasil. Para baixar os custos, os produtores reduzem o plantel em lactação e, sobretudo, investem em alternativas para alimentar os animais. Dentre elas, ganha espaço no Sul a utilização de trigo como forrageira, tanto para pastejo quanto para a produção de silagem, com bons resultados, confirmam especialistas ouvidos por Balde Branco.

“A composição nutricional de pastagens anuais de inverno, seja de aveia preta, azevém, seja de cereais de duplo propósito (trigo, aveia branca, triticale e cevada), é suficiente para suprir as necessidades diárias de vacas produzindo 15 litros de leite/dia, bem como ganhos de peso para bovinos de corte de até 1 quilo por bovino/dia. No entanto, para desempenhos superiores, a suplementação energética é recomendada”, diz o pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), Renato Serena Fontaneli.

Segundo o especialista, a produção dos grãos de cereais pode não ser tão atrativa do ponto de vista econômico quando se pensa de maneira isolada. Porém, analisando-se todos os componentes dos sistemas ILP (integração lavoura-pecuária), por exemplo, suas interações e sinergias, o valor desse grão, transformado em produção de proteína de origem animal, aumenta o retorno econômico e contribui marcantemente com a diversificação de renda e o aumento da sustentabilidade, cada vez mais reconhecida, exigida e valorizada pela sociedade.

Trigo também é viável para produzir silagem de qualidade para vacas leiteiras

Duplo propósito – “Os cereais de duplo propósito servem como pasto, a exemplo de aveia e azevém, com a vantagem de poderem ser diferidos para ensilagem com maior participação de grãos, silagem de grãos ou colheita de grãos secos, permitindo, portanto, maior leque de alternativas. Aliás, as cultivares de trigo têm maior preferência pelos animais (maior palatabilidade), os grãos determinantes têm maior teor de proteína bruta (12% a 16%) em relação ao milho (7% a 9%), reduzindo a utilização de soja na formulação de ração”, destaca Fontaneli.

Ele aponta ainda outras importantes características e benefícios desse material: cobertura do solo antecipada, permitindo a semeadura logo após a cultura de verão; redução da incidência de plantas daninhas comparada ao pousio; contribuição das cultivares para produção antecipada de forragem no outono; alternativa ou reforço a forrageiras tradicionais precoces, como a aveia preta e centeio; melhora na oferta de forragem outono/inverno, elevando a produtividade do rebanho e diminuindo o uso de forragem conservada (silagem e feno); melhora na ocupação de mão de obra, máquinas e equipamentos; aumento na fertilidade química, física e biológica do solo e a conservação da biodiversidade.

 

Importância da adubação correta – Para extrair todo o potencial dessa cultivar de trigo, o pesquisador informa que o protocolo de adubação de plantio é o mesmo dos cereais destinados à colheita de grãos. A diferença é a maior necessidade de cobertura nitrogenada, pois a cada ciclo de pastejo, em que se pasteja 1 tonelada por hectare de massa seca (MS), deve-se adubar a área com 30 quilos de nitrogênio por hectare.

“Geralmente, em dois ciclos de pastejo são consumidos pelos animais 2 toneladas de massa seca por hectare, portanto, deve ser adubado com 60 quilos por hectare de nitrogênio além do que é empregado para o manejo tradicional, apenas para produção de grãos. Não deve ser considerado o retorno de nutrientes pelas fezes e urina, pois ocorre de maneira desuniforme, em manchas”, alerta Fontaneli.

Alessandro Caseri: “Recebo relato de pecuaristas informando que, a partir da utilização do trigo para pastejo, obtiveram ganhos em produtividade e redução de custos na alimentação das vacas”

Planejamento forrageiro – O médico veterinário e supervisor técnico de nutrição animal da Biotrigo Genética, Alessandro Caseri, ressalta que é importante que o criador tenha várias opções de forrageiras. Isso porque quando os técnicos vão trabalhar com planejamento forrageiro em uma fazenda, quanto mais opções ele tiver disponível, seja de trigo, seja de qualquer outra cultivar, mais assertividade terá em sua estratégia.

“Por exemplo, o pecuarista busca por um material de inverno que possa ser plantado o quanto antes, então a nossa tecnologia pode ser plantada no início de março, só basta ter umidade no solo, com condições de semeadura, e ele se destacará muito bem. Agora, se o produtor optar em plantar nos meses de maio e junho, já tem a possibilidade de utilizar outras cultivares como o azevém e também outras opções de trigo”, explica Caseri.

Dentre os diferenciais da cultivar de trigo da empresa para pastejo, o médico veterinário destaca o rebrote bastante agressivo, que gera um grande volume de massa foliar; qualidade bromatológica – com valores de proteína altos e FDN muito digestiva, propiciando melhor aproveitamento pelos animais; taxa de acúmulo da forrageira arrojada, onde a altura de entrada das vacas é de 25 cm e saída de 10 cm, com o rebanho retornando ao mesmo piquete a cada 20 dias.

Caseri observa que não é recomendada a utilização dessa cultivar em sistemas de integração lavoura-pecuária, pois, sem competição, o trigo para pastejo expressará todo o potencial genético. Também não é indicado o consorciamento com outras espécies forrageiras, por causa desse motivo citado acima. “É importante também evitar áreas alagadiças, onde nenhum trigo se adapta, inclusive para pastejo. Além disso, o produtor deve tomar cuidado principalmente quanto à presença de alumínio tóxico no solo e fazer o controle do pH, pois áreas corrigidas respondem bem quando é feita a adubação nitrogenada”, alerta ele.

Essa cultivar da Biotrigo tem 180 dias de ciclo de pastejo, ou seja, se o produtor plantar em março, deve esperar 40 dias para soltar os animais no pasto. Depois desse primeiro pastejo, a tendência é de que ocorram de 8 a 10 pastejos, voltando, em média, a cada 20 dias para o mesmo piquete. Ou seja, ele pode alimentar o seu rebanho com trigo forrageiro até o mês de outubro.

“Esse material pode atingir de 25% a 30% de proteína bruta, desde que o produtor faça uma nova adubação nitrogenada, no máximo a cada dois pastejos naquela área. Portanto, o potencial genético dessa forrageira só será concretizado se o produtor seguir corretamente as recomendações”, explica Caseri.

Sobre se a adubação nitrogenada encareceria o preço da pastagem produzida, o especialista observa que sim. Entretanto haveria um barateamento do preço do leite ou da carne produzida naquela propriedade. “Se a gente pensar que a maior fonte de proteína mais utilizada no Brasil é o farelo de soja, que está acima de R$ 3,00/kg, então quanto mais proteína o animal buscar via pastagem, mais barato o produtor vai tornar a dieta dos animais naquele dia. Em outras palavras, quanto mais a fazenda investir numa pastagem de trigo, mais haverá a redução dos custos para a ração de bovinos leiteiros.”

Produtor obtém bons resultados – O pro­dutor Adoniran Junior Ribeiro de Oliveira, conhecido como Juninho, de Guaraniaçu (PR), viu a realidade do Sítio Florianópolis mudar para melhor, após introduzir o trigo para pastejo na propriedade de seus pais, o casal Antônio Ribeiro de Oliveira e Abegail Terezinha de Oliveira.

Juninho informa que a fazenda de sua família possui 27 hectares e produz leite em sistema de produção semi-intensivo, fornecendo pastagem para o plantel, além de uma suplementação volumosa (silagem). “Estamos com um rebanho em lactação de 14 animais da raça Jersey e Jersolando, com uma produção média de 250 litros de leite por dia e, no período do inverno, há um aumento nessa média.”

Ele relata que, quatro anos atrás, quando foi comprar sementes de aveia para pastejo, um amigo, que trabalha em uma agropecuária, indicou a novidade de cultivar de trigo. Juninho diz que adquiriu uma parte de aveia e também outra da cultivar de trigo. 

Adoniran Júnior: “Já no primeiro ano de uso do trigo para pastejo, vi uma diferença de próximo a 20% a mais na produção de leite em comparação com a aveia”

“Já no primeiro ano eu vi uma diferença de próximo a 20% a mais na produção de leite em comparação com a aveia, e também registrei uma redução dos custos, já que diminuí a quantidade de farelo de soja e ração. Desde então utilizo o trigo para produzir volumoso no período do inverno, pois a cultivar oferece uma ótima quantidade de pastejos”, avalia o produtor de leite de Guaraniaçu.

Para investir ainda mais no Sítio Florianópolis, visando aumentar a produtividade do rebanho, a família Oliveira está aguardando por preços melhores do litro de leite pago ao produtor. “Estamos sempre buscando novidades que estão disponíveis no mercado, contudo, para adquirir tais tecnologias, existe um grande empecilho: o alto custo. Além disso, a cada ano que passa, trabalhamos para melhorar a qualidade do leite para garantir ao consumidor final um ótimo produto”, ressalta Juninho.

Conforme Caseri, é muito sensível falar como técnico para o produtor entrar com esse ou aquele manejo, cravando que ele vai aumentar tantos litros de leite por animal. “Isso parece muito mágico, é comum surgirem no mercado esses vendedores de milagre. Mas posso dizer que recebo relato de pecuaristas informando que, a partir do momento que utilizaram o trigo para pastejo, os animais produziram, em média, de 2 a 3 kg/leite/vaca/dia a mais”, conclui.

Vantagens do trigo BRS Pastoreio em relação ao BRS Tarumã


• Precocidade para pastejo (7 a 10 dias)
• Maior potencial de produção de grãos
• Silagem de melhor qualidade energética, pela maior relação grãos/biomassa total, mas não serve para panificação
• Trigo peladinho, sem a presença do “mito” aristas.

Vantagens do trigo BRS Tarumã para pastejo


• Hábito de crescimento prostrado e excelente perfilhamento
• Período vegetativo longo
• Elevado rendimento de biomassa com maior concentração de matéria seca
• Grãos com alto peso por hectolitro

Fonte: Renato Fontaneli – Embrapa Trigo

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