balde branco

É muito importante o contato dos animais com o carrapato para desenvolverem imunidade

SANIDADE

TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA

Presente em grande parte das propriedades, é importante o conhecimento dos aspectos epidemiológicos, de controle e tratamento da TPB, para evitar os prejuízos provocados por essa doença

Thallyson Thalles Teodoro de Oliveira e José Zambrano

   A tristeza parasitária bovina (TPB) é uma das doenças mais comuns na pecuária brasileira. Além da sua prevalência alta, ela acarreta uma série de prejuízos econômicos, como queda na produção dos animais, gastos com tratamentos dos bovinos acometidos, com a prevenção de novos casos e mortalidade.

   O complexo da TPB é formado por duas principais doenças, que possuem altas morbidade e mortalidade. Uma delas é a babesiose, causada pelos protozoários Babesia bovis e Babesia bigemia. A outra doença é a anaplasmose, provocada por uma rickettisia, que é o Anaplasma marginale.

   A transmissão da babesiose ocorre através do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, que no seu ciclo de vida se alimenta do sangue contaminado do animal doente. Nessa ingestão, o carrapato ingere também as hemácias parasitadas pela babesia. Após completar o seu ciclo no hospedeiro bovino, as fêmeas do carrapato vão para o solo, que é onde vai ocorrer a postura dos ovos – então, as babesias ingeridas no hospedeiro são transmitidas para a prole do carrapato. Na maior parte dos casos, a transmissão da B. bovis ao bovino é causada pelas formas larvares, enquanto a transmissão da B. bigemia, que possui um ciclo maior, ocorre desde o estágio de ninfa até a fase adulta. O período de incubação da babesiose no hospedeiro é normalmente de 7 a 14 dias, podendo variar por fatores como imunidade do animal e taxa de inoculação do agente no bovino.

COMO ATUAR E OS ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

   M esmo sabendo que os principais vetores na transmissão da TPB são os carrapatos e alguns outros insetos, não é indicada a eliminação desses vetores do ambiente de convívio com os animais. O contato dos animais com os agentes da TPB leva à produção de um tipo de imunidade temporária, sendo recomendável, por isso, que os bovinos tenham contato frequente com os vetores e consequentemente com os agentes, para que o seu sistema imunológico venha sempre ter a produção de mecanismos de defesa contra babesioses e anaplasmoses.

   Por esse motivo, podem ocorrer alguns problemas em regiões nas quais não é constante a presença de carrapatos. Também em situações nas quais ocorre a compra de animais vindos de áreas ou sistemas que não permitiam esse tipo de contato para regiões ou sistemas de produção onde o animal possui o contato com os vetores e agentes da tristeza parasitária bovina, desencadeando em ambas as situações surtos e o aparecimento de novos casos da doença.

   Além disso, existem alguns fatores do animal que determinam a gravidade ou o aparecimento da doença, como raça, sexo, idade, etc. As raças taurinas (Bos taurus) são mais sensíveis a infestações de carrapatos, quando comparadas às raças zebuínas (Bos indicus), que possuem maior resistência a esses fatores. E, ao contrário que muitos pensam, os animais mais jovens possuem maior resistência à TPB do que animais mais velhos, pela alta produção de eritrócitos (glóbulos vermelhos) e pela boa resposta da imunidade celular, entre outros fatores.

   Controle da TPB – A prática recomendada para o controle da tristeza parasitária bovina é baseada principalmente no controle dos vetores, na quimioprofilaxia e na imunização dos animais. O controle mais importante é o dos carrapatos, em que deve ser estabelecida uma estratégia visando sempre à manutenção de um número adequado de carrapatos no ambiente para que o animal nunca perca o contato com os agentes da TPB, evitando quadros mais graves da doença.

   O controle deve ser feito tanto no animal como no ambiente. Quando feito no animal, é baseado no uso de carrapaticidas como formamidina, piretróides, avermectinas e organofosforados. Deve ser feito por meio de pulverização, imersão, aplicação dorsal, etc. O controle deve ser feito com alguma base acaricida 90% de eficiência com intervalos de 21 dias, até serem obtidas infestações menores. A utilização desse manejo vai depender da necessidade da propriedade. Já o controle no ambiente é feito pelo manejo de pastos, como na rotação de pastagens.

   O controle de carrapatos se torna mais importante para casos de babesiose. Já no caso de anaplasmose, vai surtir um efeito menor, tendo em vista as possíveis infecções por fômites e moscas. Sendo assim, o manejo da população de moscas dentro da propriedade também é uma forma importante para o controle de TPB especificamente de casos de anaplasmose.

   Diagnóstico – Tanto para anaplasmose como para babesiose, o diagnóstico se baseia em vários fatores, como o histórico, levando em consideração o local de origem do animal, idade e raça. Os sinais clínicos geralmente são febre, depressão, mucosas pálidas, podendo chegar a ictéricas, perda de escore de condição corporal e baixa ingestão de alimentos.

   Um método importante de diagnóstico para essas doenças são os exames laboratoriais, que auxiliam muito na confirmação de casos de anaplasmose e babesiose. Um método bom para essa confirmação é por meio do esfregaço sanguíneo, que nos permite observar o agente dentro das hemácias do animal. Vale ressaltar que esse tipo de exame requer alguns equipamentos dentro das propriedades, como os insumos para a realização do esfregaço e o microscópio para a leitura do exame.

   Algumas propriedades vêm adquirindo esses equipamentos para o controle sanitário do rebanho, o que torna o diagnóstico mais rápido e preciso, facilitando assim a tomada de decisões nos tratamentos. Assim, não se torna necessária a utilização de medicamentos para ambos os agentes da TPB quando a infecção em alguns casos está sendo gerada por um agente. Isso leva a uma economia considerável para a propriedade, sem levar em conta o número de animais que conseguem sobreviver graças ao diagnóstico e ao tratamento corretos. Assim, é possível diminuir a resistência a antibióticos pelos agentes da TPB.

   Tratamento – O tratamento para a TPB vai depender do tipo de agente encontrado nos exames. No caso da anaplasmose, o tratamento é baseado em antibióticos à base de oxitetraciclinas ou enrofloxacinas. Já para a babesiose são utilizados no tratamento os derivados da diamidina, como o diaceturato de diminazeno.

   Quando se quer combater ambos os agentes da TPB, podem ser administrados os dois medicamentos ou ser utilizado o dipropionato de imidocarb. O tratamento suporte é de suma importância para o sucesso dessa terapêutica. Para isso, é necessária a utilização da fluidoterapia, que dá um suporte muito bom para o animal até o restabelecimento da sua saúde. Têm sido observados bons resultados com a utilização da fluidoterapia oral, a qual tem como principal função o restabelecimento da hidratação do organismo, uma vez que o animal doente diminuiu a ingestão de água. Assim, com essa hidratação é possível ter o restabelecimento da volemia e dos eletrólitos do animal, o que garante que o animal saia de efeitos secundários da TPB, garantindo o restabelecimento de sua saúde de maneira mais rápida e satisfatória.

   Em alguns casos, a fluidoterapia venosa também é importante, devendo ser utilizada em casos em que o hematócrito do animal está abaixo de 15%, quando o animal já demonstra um grau de apatia considerável e a transfusão de sangue é de suma importância.

   Sabendo da sua presença em grande parte das propriedades no Brasil é de grande importância o conhecimento dos aspectos epidemiológicos, de controle e tratamento da TPB, para que assim seja possível evitar os grandes prejuízos causados por essa doença ao sistema produtivo.

(Os autores citam referências bibliográficas; os interessados podem entrar em contato com o editor)

   A anaplasmose, por sua vez, pode ser transmitida de diversas maneiras. Os principais vetores são moscas e mosquitos, principalmente tabanídeos e a Stomoxys calcitrans. Parte do ciclo de vida do A. marginale ocorre ainda nas células intestinais dos vetores; o restante, no organismo do hospedeiro. Pela sua longevidade e mobilidade, mosquitos e moscas são importantes na disseminação da anaplasmose. A transmissão por moscas acontece de forma mecânica, na qual o inseto repassa as hemácias infectadas obtidas de um animal doente para um animal suscetível.

   Outra forma de infecção que deve ser levada em consideração é a iatrogênica, que ocorre com o compartilhamento de agulhas e materiais cirúrgicos entre animais infectados e animais saudáveis. Desta forma, ocorre o contato do sangue infectado com o organismo do bovino suscetível.

   Existe uma forma menos frequente de anaplasmose, que é a anaplasmose neonatal, na qual a transmissão do agente infeccioso ocorre por via transplacentária. Estima-se que cerca de 10% a 15% dos bezerros nascidos nas propriedades leiteiras sejam portadores de Anaplasma marginale, mas sem sinais clínicos.

    Em estudo feito por Grau et al. (2013), foram avaliadas progenitoras e suas proles pelo exame de PCR, e verificou-se que, entre os animais examinados, 63% das matrizes eram positivas para anaplasmose e 6,7% dos bezerros também. Isso indica que a taxa de transmissão via transplacentária do Anaplasma marginale é de aproximadamente 10,5%, e que em áreas onde se têm surtos de anaplasmose esse tipo de transmissão se torna importante.

Thallyson Thalles Teodoro de Oliveira (estudante de Medicina Veterinária e estagiário Rehagro); José Zambrano (médico veterinário – PhD, consultor de Sanidade Rehagro)

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