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O produtor deve estar atento ao fato de que, para manter a sanidade do rebanho, é importante o controle do carrapato

SANIDADE

Tristeza parasitária

Um perigo à saúde do rebanho e que traz altos prejuizos

A tristeza parasitária bovina é uma séria doença, que provoca grande impacto econômico na bovinocultura, em razão dos altos índices de mortalidade e morbidade, elevando os custos com tratamentos e manejos especiais

Gisele Dela Ricci*

A tristeza parasitária bovina (TPB), popularmente conhecida como amarelão, mal da boca branca, tristezinha ou piroplasmose, é composta por um conjunto de doenças nas quais se inserem a babesiose e a anaplasmose. Ambas podem apresentar infecções simultâneas e semelhantes, uma vez que parasitam a mesma célula sanguínea e apresentam sintomas parecidos. No entanto, são doenças distintas, que não dependem uma da outra e necessitam de manejos e tratamentos característicos.

A transmissão das babesias aos bovinos ocorre por meio do carrapato Boophilus microplus, conhecido como carrapato-do-boi, exclusivamente. Para o anaplasma, a transmissão ocorre pelo mesmo carrapato, podendo ocorrer por via mecânica através da picada de insetos como moscas, mosquitos e mutucas. A presença e a intensidade do ataque do carrapato considerado o principal transmissor determina o aparecimento, a manutenção ou a ausência da doença no rebanho.

No controle com carrapaticida, é indispensável tomarem-se todos os cuidados para a proteção da pessoa que estiver aplicando o produto

Animais de 7 a 10 meses de idade não apresentam imunidade específica aos agentes da tristeza parasitária bovina. Mas, quando vivem em regiões que possuem contato com o carrapato durante todo o ano, os agentes são inoculados nos animais desde praticamente o nascimento, permitindo que esses bezerros adquiram mais resistência e fiquem menos doentes, tornando-se adultos mais resistentes. Diferentemente dos animais que vivem em regiões sem esse contato inicial, situação que os torna mais suscetíveis à doença.

A incubação do anaplasma varia de duas a quatro semanas, a depender da sensibilidade do hospedeiro e da quantidade de parasitas no sangue dos animais. Se houver inoculação com sangue contaminado, o período pode ser de uma ou duas semanas. Para a babesiose, são encontrados períodos de incubação de uma a três semanas nas infecções naturais.

Entre os sintomas do anaplasma, no início, são observados aumento da temperatura corporal, podendo alcançar 40 a 41 graus Celsius, que se mantém alta por determinado tempo até abaixar e alcançar a temperatura normal. O bovino apresentará fraqueza, depressão, micção frequente, urina amarelo-escura, falta de apetite e desidratação. Os animais podem se tornar anêmicos, com falta de oxigênio nos órgãos ou tecidos, apresentar falta de ar ou grave dificuldade de respirar, podendo cambalear e ou se tornarem lentos.

Para a babesiose, os sinais clínicos mais observados são o aumento da temperatura, que pode chegar a até 41 graus Celsius, anemia, coloração amarela da pele e/ou dos olhos, anorexia, depressão e fraqueza. As mucosas e conjuntivas e a área dos olhos tornam-se muito pálidas, com aumento da frequência respiratória e cardíaca. Bovinos, dependendo da parasitose, podem apresentar babesiose cerebral, que pode ser caracterizada pela falta de coordenação motora acompanhada de paralisia dos membros, convulsões, coma e morte.

 

O diagnóstico da anaplasmose é baseado nos sinais clínicos, em exames laboratoriais e histórico do local. Com relação aos sinais clínicos importantes, podem ser observadas febre, depressão, mucosas pálidas e anorexia, que são sempre frequentes. Nos exames laboratoriais, podem ser observados anaplasmas na margem das células sanguíneas. Para o histórico, a idade e a origem dos animais, importados ou de áreas de baixa incidência devem ser avaliados.

É preciso adotar estratégias de controle do carrapato, seguindo orientação técnica

O diagnóstico clínico da babesiose normalmente é confundido com sinais de outras enfermidades. No entanto, podem ser observadas mucosas pálidas, hemoglobinúria e febre. As avaliações laboratoriais permitem observar hemácias do sangue infectadas por babesias.

 

Estratégias de controle das doenças – Para o controle da tristeza parasitária bovina, o mais indicado é a profilaxia, evitando o aparecimento da doença, pois o tratamento medicamentoso, considerando um número maior de animais, é caro e em alguns casos não apresenta a eficiência esperada.


As formas de controle profilático utilizadas para as parasitoses são o controle dos vetores, a medicamentosa, a premunição e a utilização de vacinas. O controle de carrapato se constitui em uma medida de controle da tristeza parasitária bovina e é implementado em níveis de erradicação e controle estratégico.


A profilaxia deve ocorrer por meio da imunização de bovinos sensíveis, com possibilidade de adquirirem a doença, levando animais de áreas livres de carrapatos para áreas com a presença dos parasitas, locais onde há situação de diminuição temporária da infestação por carrapatos e a localidades onde há animais expostos à superinfestação por carrapatos.

 

Em piquetes, onde entram em contato com o carrapato, as bezerras têm mais resistência à TPB

A campanha de erradicação do carrapato do boi (Boophilus microplus) teve início em 1906, nos Estados Unidos, e é atualmente mantida pela vigilância sanitária. No Brasil, é usado o controle em algumas áreas, mas, repetidamente, é observada a utilização de produtos carrapaticidas sem nenhuma forma de monitoramento.
Pecuaristas têm utilizado práticas como es­ta­bulação e aquisição de animais com potencial genético aprimorado para alcançar melhores índices de produtividade. Tais práticas colaboram com a proliferação de carrapatos. O carrapato não deve ser eliminado e sim controlado pelas propriedades, de maneira que os bovinos sejam parasitados durante todas as estações do ano com infestações baixas e controladas.


O controle de carrapato, associado à imunização de animais suscetíveis, é uma forma eficiente de profilaxia dessa parasitose em algumas áreas de instabilidade. Para a anaplasmose, é necessário que haja controle adequado de moscas na propriedade, sobretudo em estações chuvosas do ano, quando a população delas é maior.

Diferentes métodos de vacinação têm sido avaliados em condições de laboratório e campo, e, na maioria delas, se utiliza a vacina com sangue de bovinos infectados, contendo formas vivas atenuadas, prática que traz resultados satisfatórios.


Três tipos de vacinas foram desenvolvidos para a anaplasmose e, após sua aplicação, os bovinos desenvolvem resposta imunológica. A imunidade atribuída por essa vacina possui a capacidade de reduzir perdas econômicas ocasionadas pela morbidade e/ou mortalidade depois de um desafio experimental ou natural. A vacina inativada é um outro tipo de imunizante desenvolvido a partir de sangue de bovinos inoculados no pique da doença. (Do original, constam diversas referências bibliográficas, à disposição dos interessados.)

 

*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

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