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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"Quando há um aumento na renda da família, mesmo pequeno, um dos primeiros itens a terem o seu consumo igualmente aumentado são os lácteos – do leite às pizzas com queijos”

Um dia sem proteína animal?

Entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, provavelmente muitos dos que leem essas linhas assistiram a comerciais na TV, em redes sociais e outras mídias, nos quais um grande banco comercial brasileiro promovia, como ação para melhorar a sustentabilidade do planeta e o meio ambiente, a ideia de que cada brasileiro ficasse um dia da semana sem consumir proteína animal, citando especificamente a carne.

Porém, de acordo com vários estudos, enquanto a tendência dos países mais desenvolvidos é de diminuir o consumo de proteínas animais, em países denominados emergentes, cuja economia ainda está em desenvolvimento, o consumo desse tipo de alimento é crescente. A razão é simples: à medida que aumenta a renda mundial, a maior parte dos habitantes do mundo procura melhorar sua dieta.

A peça publicitária, portanto, faria sentido em países onde o consumo de proteína animal é alto há muito tempo. No Brasil, com a pujança e a importância do nosso agronegócio, e onde a maioria da população infelizmente ainda tem baixo nível de renda, a propaganda só fez despertar a ira dos produtores e a incompreensão da maioria dos consumidores. Afinal, o almoço da segunda-feira, em geral, já não tem toda a comida que desejam.

Concordando com a afirmativa acima, sabemos, pelas estatísticas de várias décadas, que boa parte da nossa população quer aumentar o consumo de proteína animal, e o leite vem em primeiro lugar. Esse é um fenômeno bastante estudado pelos economistas: o consumo é “elástico”. Quando há um aumento na renda da família, mesmo pequeno, um dos primeiros itens a terem o seu consumo igualmente aumentado são os lácteos, do leite ao preferido iogurte, manteiga e queijos, além de pratos que contenham lácteos, como pizzas. Se a renda cai, cai também o consumo de lácteos.

Mas então por que o banco e outras instituições gastam um bom dinheiro sugerindo que os consumidores reduzam o consumo de proteína animal? Porque a produção de carne, leite e outras proteínas ainda está associada a modos de produção que, para atender ao aumento do consumo, aumentarão também o impacto no meio ambiente. Eu, pessoalmente, não aposto minhas fichas na alternativa da redução no consumo, porque acredito que a produção leiteira vai reduzir o seu impacto ambiental.

A ciência tem soluções prontas, e muitas outras virão para acomodar o aumento do consumo de proteína animal com sustentabilidade. Isso é possível por meio de mais qualificação em todos os níveis, legislação orientada para a preservação do meio ambiente e principalmente pelos novos modelos de produção. A velocidade de entrega de novas tecnologias aumenta quanto mais parcerias forem feitas, baseadas no conceito de inovação aberta. Neste, ganham os produtores, os consumidores e a cadeia produtiva como um todo.

A Embrapa promove a inovação aberta há alguns anos, cujos resultados foram divulgados nesta revista. Foi aplicando esse modelo que a iniciativa Ideas for Milk, da Embrapa Gado de Leite, criou o espaço necessário para empresas de jovens inovadores se mostrarem e receberem financiamento que colocou seus produtos no mercado. Muitas outras iniciativas, dedicadas a outras cadeias produtivas, viriam após essa pioneira e bem-sucedida ação dedicada à cadeia do leite.

Acredito que ecossistemas de inovação, que juntam engenheiros, profissionais das tecnologias da informação e, claro, os profissionais da cadeia do leite, vão gerar novas tecnologias para aproveitar melhor os recursos naturais como água, terra, luz solar e genética dos animais. Vamos continuar a aumentar a produção voltada para as necessidades dos consumidores, com mais bem-estar para os animais, menor impacto no ambiente, custo de produção menor e mais qualidade. Sem faltar leite, manteiga ou carne na segunda-feira.

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