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Animais Sindi da Fazenda Carnaúba, em Taperoá, no sertão paraibano: o plantel contribui para viabilizar a produção de leite em regiões semiáridas

SINDI

Uma raça a toda prova

Rústica, dócil e eficiente na produção de leite em condições pouco favoráveis

Este gado zebuíno, de origem paquistanesa, conquista o interesse da cadeia produtiva, dada sua rusticidade, docilidade e eficiência em produzir leite e carne, mesmo diante de obstáculos alimentares e climáticos

Erick Henrique

O pecuarista está cada vez mais se profissionalizando, pois, com margens de lucro extremamente apertadas, não há sistema de produção que permaneça firme sem que se busque eficiência em todos os fatores inseridos porteira adentro (pasto, rebanho, silagem, maquinários, mão de obra). Em vista disso, graças às ferramentas de melhoramento genético, a raça Sindi vem contribuindo sobremaneira para aumentar a produtividade das propriedades leiteiras do Brasil. Segundo Marina Pereira Alencar, gerente do PMGZ Leite, a raça Sindi cresceu em número de matrizes inscritas no controle leiteiro oficial da ABCZ, fato que contribuiu consideravelmente para a publicação da primeira avaliação genética no ano de 2016.

“Na última avaliação, um total de 34.044 animais teve as estimativas genéticas para produção de leite em até 305 dias publicadas, com base em 1.116 lactações consistentes oriundas de 757 matrizes. Até o ano de 2020 foram registrados 59 animais no controle de genealogia (CCG), que contempla cruzamentos da raça Sindi com as raças europeias: Holandesa e Jersey”, destaca a coordenadora do PMGZ, Max Leite. De acordo com ela, os Estados de São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte e Minas Gerais são os que mais se destacaram pela inscrição de matrizes no programa de melhoramento da ABCZ, por meio do controle leiteiro. Além disso, o programa registrou uma média de produção de 1.643,80 kg de leite em até 305 dias.

Mariana P. Alencar: “Os Estados de SP, PB, RN e MG são os que mais se destacaram pela inscrição de matrizes”

Para ajudar na escolha certa, a gerente do PMGZ diz que o produtor deve, primeiramente, analisar e definir se o sistema de produção permite a inclusão da raça Sindi como recurso genético, desde que seja baseada em informações genéticas e fenotípicas para a produção de leite. “Em geral, quando se utiliza a raça Sindi, naturalmente há uma tendência de incremento do plantel produtivo com cruzamentos que utilizem as raças europeias. Vale ressaltar que a associação registra também os animais oriundos desses cruzamentos: raça Sindi com a Holandesa (Sindolando) e com a Jersey (Sinjer), ambos em controle de genealogia (CCG).”

Ela assinala ainda que, analisando esses dois cruzamentos, Sindolando e Sinjer, pode-se destacar o Sinjer como o mais indicado para sistemas que exijam animais de baixa exigência metabólica, com bons níveis reprodutivos e de alto teor de sólidos no leite.

 

Adaldio José Castilho Filho segue o sistema tradicional e coloca todos os animais à prova, avaliando as características principais da raça Sindi e também os animais Sindolandos de sua fazenda

Referência em melhoramento – A Fazendas Reunidas Castilho, do pecuarista Adaldio José Castilho Filho, segue o sistema tradicional e coloca todos os animais à prova, avaliando as características principais da raça, como rusticidade, adaptabilidade, fertilidade, morfologia e temperamento. Há 85 anos, a propriedade, localizada em Novo Horizonte (SP), seleciona e desenvolve a capacidade dos animais da raça Sindi em produzirem tanto leite como carne de qualidade. 

 

Vacas Sindolando, da Sindicastilho, produzem, em média, 16 litros de leite por dia, criadas a pasto

Segundo o gerente da fazenda, Henrique Borges, o produtor utiliza o software Produz, da ABCZ, que o auxilia no direcionamento dos acasalamentos, bem como no monitoramento de dados reprodutivos e de desenvolvimento do plantel. “Nosso rebanho leiteiro é focado na produção de animais eficientes e rentáveis. Seguimos o sistema tradicional de ordenha manual, com uma média de 9 litros/leite/dia para as vacas Sindi e de 16/litros/leite/dia para as vacas Sindolando, todas em regime a pasto”, diz Borges. Para ele, a raça Sindi se destaca pela sua dupla função, produzindo leite A2A2 e carne de qualidade para o mercado. Ao longo dos anos, a raça se mostra com uma produção de leite constante, na média de 8 a 10 litros/leite/dia a pasto, com duas ordenhas, com excelente teor de sólidos, notadamente gordura. “Entretanto, é nos cruzamentos Sindi x Holandês (Sindolando) e Sindi x Jersey (Sinjer) que vemos o grande destaque e aumento da produção para 15 a 16 litros de leite por dia nas mesmas condições. Ficando evidente a grande heterose no cruzamento zebu x taurino, unindo a rusticidade, precocidade, fertilidade e habilidade materna do zebu com a alta produção de leite de raças taurinas consagradas”, avalia o gerente da SindiCastilho.

Conforme Borges, a fazenda trabalha cada vez mais com o melhoramento genético, tendo como principal foco o mercado mundial, graças ao melhoramento genético do Sindi na carne e no leite. “Acreditamos e investimos cada vez mais no aumento do rebanho nacional de animais Sindi, sempre destacando e incentivando a produção de animais meio-sangue Sindolando e Sinjer para a produção de leite A2A2 e os cruzamentos voltados para carne com as raças Nelore, Angus, Wagyu, Senepol, Guzerá, Brahman e tricross.”

 

Henrique Borges: “Com os cruzamentos consegue-se aumento da produtividade/vaca/dia de A2A2 com excelente teor de sólidos"

Além disso, a SindiCastilho possui grandes parcerias com as principais centrais de inseminação do mercado, disponibilizando a genética de seus principais animais melhoradores. “Atualmente, temos animais nas centrais Semex, CRV Lagoa, ABS Pecplan, Genex e Sembra. A propósito, fazemos a venda de material genético de outros touros por meio de venda particular em nosso escritório”, informa Borges.

Rafael Dantas: o aumento de produtividade que está acontecendo com o rebanho Sindi é decorrente do melhoramento genético, não apenas feito pelo programa da Embrapa

Fortalecendo a pecuária leiteira nordestina – O pesquisador da Embrapa Semiárido Rafael Dantas explica que o rebanho Sindi vem, de forma crescente, contribuindo para o desenvolvimento da pecuária leiteira nacional, sobretudo quando se fala em regiões onde as raças europeias não encontram um ambiente tão satisfatório para a produção, como o semiárido brasileiro.

“Apesar de o rebanho Sindi estar distribuído por praticamente todo o País, desde o Norte, o Centro-Oeste e o Sudeste, o grande propósito dessa raça está nas regiões mais áridas e semiáridas, ou seja, no Nordeste”, pontua Dantas.

Ele nota que, enquanto animais da raça Holandesa, Jersey e Pardo-Suíço têm limitação grande em sistemas de produção leiteira no semiárido, por causa das condições climáticas, além dos desafios alimentares impostos, o gado Sindi consegue superar tais adversidades e até mesmo converte alimentos de baixa qualidade para produção de proteína (carne e leite) com muita eficiência.

Dantas calcula que, atualmente, a produção leiteira das vacas Sindi no Brasil está em torno de 14 kg de leite por dia. Quando se fala da Embrapa Semiárido, que trabalha com gado próximo daquele oriundo do Paquistão, muito rústico, a produção atinge uma média de 10 kg de leite por vaca/dia. “Esse aumento de produtividade que está acontecendo com o rebanho Sindi é decorrente do melhoramento genético, não apenas feito pelo programa da Embrapa, mas, especialmente, pelo trabalho dos pecuaristas. Exemplo é a Fazenda Carnaúba, que promove há anos, na Paraíba, uma rigorosa seleção do plantel, tanto que possui vacas produzindo cerca de 25 kg/leite/dia”, destaca o pesquisador da Embrapa Semiárido.

Localizada no município de Taperoá, no sertão paraibano, a Fazenda Carnaúba, do produtor Joaquim Dantas Vilar, está em uma área de altitude mais elevada, que fica cerca 240 km da capital, João Pessoa. O clima é semiárido, com registro de chuvas de 150 a 1.000 mm, ou seja, é bem irregular o período das águas. “O meu pai, Manuel Dantas Vilar Filho, introduziu o gado Sindi na Carnaúba em meados dos anos 1980, justamente por identificar a rusticidade que a raça possui, além da capacidade de produzir leite e carne, porque trabalhamos com gado de dupla aptidão. A propriedade produz bezerro pesado e enche o balde de leite”, relata Joaquim Vilar, acrescentando que foi uma necessidade trazer esse animal para a fazenda, já que as demais raças não suportavam o rigor climático. “Dessa forma, trabalhamos com animais da raça Guzerá e Sindi puros, aptos para produzir numa região deserta.”

A propriedade trabalha com programa de melhoramento genético da ABCZ desde de 1971, por meio do controle leiteiro da raça Guzerá e também com o rebanho Sindi, desde 1986. O programa realizado pela Carnaúba é sistemático para leite, desenvolvimento de bezerras, intervalo entre partos e rusticidade.

Joaquim D. Vilar: o controle leiteiro é feito em duas ordenhas e as nossas lactações oscilam de 2.700 kg a 4.500 kg nas vacas Sindi

“Além disso, promovemos uma avaliação visual, na qual os animais que sentem mais os efeitos da seca serão descartados. Pois o animal precisa apresentar um rúmen competente para digerir esse capim fibroso daqui, uma vez que há, no máximo, de 30 a 90 dias do ano a presença de capim verde. O restante do ano ou é forragem madura ou muito seca.”

De acordo com o pecuarista de Taperoá, atualmente a propriedade está aferindo a sexta geração da raça e conta com o maior acervo de informações sobre o rebanho Sindi do Brasil, com dados reprodutivos, atingindo mais de 700 lactações registradas.

 “A gente trabalha no regime alimentar 2, que é assim que a ABCZ classifica o regime de pasto, que se baseia no capim buffel, palma forrageira e concentrado. Algumas vacas consomem cerca de 1 a 3 kg de concentrado, já as que se destacam em produção comem de 4 a 5 kg. Sob esse regime, travamos o custo da dieta em torno de 50%. O controle leiteiro é feito em duas ordenhas, as lactações oscilam de 2.700 kg a 4.500 kg nas vacas Sindi. Vale destacar que não trabalhamos com nenhum tipo de medicação ou hormônio. Como trabalhamos com a produção de queijo artesanal fino, é necessário promover uma lactação limpa.” 

Ele conta que o queijo Serra do Pico (foto), da Fazenda Carnaúba, é comercializado por R$ 60/kg. “Isso agrega muito valor, tanto que o melhor negócio da propriedade é a venda de queijo. A gente ganhou, em 2019, a medalha de bronze, durante um concurso mundial realizado na França, com o queijo Serra do Pico. Produzido com leite de Sindi e Guzerá, ele é maturado por pelo menos cinco meses.”

Queijo Serra do Pico: premiado na Europa, vendido a R$ 60 o kg pela Fazenda Carnaúba

 

O pecuarista chama a atenção para um problema limitante para o negócio: muitos produtores de queijo carecem da lei específica para a venda do produto artesanal, a chamada Lei do Selo Arte, graças à qual alguns Estados avançaram, enquanto outros ainda não conseguiram. “Então, na hora que isso destravar, o produtor começará a acreditar. Vendemos aqui, mas correndo riscos, já que não há uma legislação que ampare a produção de queijo artesanal. Esse é o nosso maior gargalo. Eu poderia vender o triplo da produção do Serra do Pico, se já tivesse uma legislação madura que abraçasse o queijo artesanal na Paraíba”, alerta o produtor de Taperoá.

FAZENDA CARNAÚBA


Produz o queijo Serra do Pico:
Premiado no concurso mundial na França e no Brasil, em Araxá (MG)

Metas: Processar de 1.000 a 1.200 litros de leite das vacas Sindi e Guzerá para produção do queijo artesanal

Gargalo: Luta para que a Lei do Selo Arte seja regularizada na Paraíba para escoar seu produto em todo o País, com segurança

Oferta: 120 touros e matrizes das raças
Sindi e Guzerá por ano, em leilões e venda direta e comercializa sêmen e embriões Sindi pela ABS Pecplan

Mercado de sêmen da raça Sindi


Na avaliação do coordenador de Produto e Atendimento ao Cliente Leite da ABS, Fernando Rosa, o crescimento do Sindi é visível em todo o País, mas chama a atenção no Nordeste e, particularmente, no Estado do Pará. No Nordeste, as vendas de genética são intensas, pela fácil adaptação da raça ao ambiente, possibilitando a produção de leite com custo de produção muito baixo. “O gado Sindi é uma raça nova e com poucas informações técnicas. No entanto, os produtores que possuem assistência técnica perceberam que necessitam investir em controle leiteiro oficial e utilizar os touros com as informações genéticas, provando que são melhoradores para a produção de leite”, diz o coordenador da ABS Pecplan.

A central percebe que a raça Sindi é a melhor para determinados ambientes. “Fomos a primeira empresa de inseminação a contratar um touro Sindi no Brasil e essa percepção de sua importância acontece em outras unidades da ABS, como na Índia, onde também possuímos uma rica bateria de touros – inclusive, com a tecnologia da genética sexada Sexcel.” Para Rosa, todas as raças leiteiras possuem características favoráveis e devem ser comparadas conforme uma série de fatores, como ambiente, alimentação, fertilidade e saúde. No ambiente citado, em condições climáticas pouco favoráveis e com uma baixa oferta de alimento, o rebanho Sindi é imbatível quando comparado a outras raças.

Fernando Rosa:“Em condições climáticas pouco favoráveis e com uma baixa oferta de alimento, o rebanho Sindi é imbatível quando comparado a outras raças"

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