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Dose correta e adaptação dos animais é a garantia para evitar casos de intoxicação aguda. E, diante de qualquer problema, é preciso chamar um profissional capacitado

INTOXICAÇÃO

Uréia: Cuidados no uso

para evitar um efeito devastador no rebanho

A ureia proporciona várias vantagens na alimentação de ruminantes, mas erros na dosagem fornecida podem acarretar sérios danos à saúde animal. Veja como evitar esse desfecho na propriedade

Erick Henrique

A ureia é utilizada na pecuária leiteira como um suplemento de dietas leiteiras, trazendo diversos benefícios. Seu uso, porém, merece uma série de cuidados para evitar problemas à saúde dos animais. E esses cuidados referem-se sobretudo à adaptação das vacas e à dosagem adequada desse componente, pois, em caso de dosagem incorreta, pode ocorrer sério problema de intoxicação. Esse tema foi foco de estudos apresentados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2014, durante o seminário para alunos de pós-graduação em Ciências Veterinárias, sobre transtornos metabólicos dos animais domésticos.

Vale o esclarecimento de que a intoxicação nos ruminantes não é pela ureia, mas sim pela amônia gerada por meio da fermentação ruminal. Apesar de ser esporádica nos rebanhos, a pesquisa da UFRGS revela que a intoxicação por amônia apresenta quadro clínico drástico, rápido, e, na maioria das vezes, devastador, podendo levar bovinos à morte em até 30 minutos após a sua ingestão.

Segundo as informações levantadas no seminário da UFRGS, constatou-se que a maioria dos surtos de intoxicação por amônia ocorre em animais não adaptados que ingeriram, logo no primeiro dia, altas doses de ureia na dieta. Contudo, têm sido descritos casos de intoxicação em bovinos adequadamente adaptados à ureia, mas que receberam subitamente duas ou três vezes mais a dose dessa substância.

Ricardo Fasanaro: “A intoxicação ocorre quando o animal não consegue absorver toda a amônia gerada pela alta dosagem da ureia, que provoca problemas ruminais, hepáticos, renais e neurológicos graves”

“A demanda pela utilização de fontes de NNP (nitrogênio não proteico), ou ureia, como é comumente chamada, é grande em regiões mais tecnificadas, onde se produz leite, e seu consumo é crescente, principalmente devido ao preço dos insumos proteicos da dieta de ruminantes. O risco de utilização de NNP é que a ureia, quando ingerida, é hidrolisada em amônia, que é tóxica para quase todos os animais vertebrados”, explica Ricardo Fasanaro, zootecnista pela Unesp/Botucatu e coordenador do Consulado do Leite.

No entanto, conforme nota ele, o rúmen consegue aproveitar esta amônia graças à simbiose com micro-organismos presentes no seu próprio trato digestivo, os quais utilizam a amônia como substrato para a síntese de suas próprias proteínas. “Em outras palavras, a vaca se beneficia e aproveita uma proteína de altíssima qualidade, gerada pela síntese microbiana. Ou seja, a ureia, ou NNP, promove maior crescimento microbiano e, por isso, conseguimos utilizar essa fonte na alimentação de ruminantes.”

Quando acontece a intoxicação – O zootecnista diz que, normalmente, os surtos e problemas relacionados à intoxicação pelo excesso de amônia, gerada pelo consumo da ureia (NNP), ocorrem por desorientação técnica e falta de manejo adequado nas propriedades. Por exemplo, problemas com a mistura desse nutriente (equipamentos que não são próprios para isso, ou uma pré-mistura antes da inclusão no vagão) fazem com que alguns animais tenham acesso a porções com maior teor de ureia. Ou, também, animais sem prévia adaptação, animais recebendo somente um trato por dia, consumindo rapidamente uma única refeição, falta de carboidratos fermentáveis no rúmen, etc.

“Recentemente tivemos um caso atípico de intoxicação. Um pequeno produtor adquiriu um sal mineral de uma empresa da sua região. Não se sabe ao certo se a empresa era registrada ou se havia técnicos formulando os produtos. No caso, o produtor adquiriu um sal mineral proteinado com ureia e forneceu aos animais jovens. Houve uma soma de fatores envolvidos: os animais estavam famintos devido à forte seca na região; não houve adaptação para ureia nos animais e as fontes de água estavam próximas aos comedouros onde foi fornecido o sal”, relata o consultor.

A consequência: 19 animais morreram em pouco tempo. Ele explica que o adequado seria os animais consumirem cerca de 100 gramas de sal por dia, porém devem ter ingerido cerca de 500 g do produto em poucos minutos, segundo seus cálculos. “Esses animais foram a óbito em cerca de duas horas, sem tempo para qualquer tentativa de tratamento, tanto pela localização da fazenda quanto pela falta de conhecimento para tal procedimento.”

As análises de amostras do material apontaram erros na formulação, com teor de ureia dez vezes mais alta, além de não haver limitadores de consumo como o sal (NACL) suficiente na mistura. “Outro fator grave foi a falta de orientação da empresa. Mesmo se a formulação estivesse adequada, era imprescindível a empresa orientar o produtor quanto à necessidade de adaptação dos animais, a forma de fornecimento e consumo”, esclarece o especialista.

Tratamento é possível?


• Em casos de intoxicação, chame um profissional capacitado, pois os tratamentos não estão bem consolidados;

• Mas uma grande quantidade intrarruminal de água gelada parece diminuir a absorção de amônia pela parede ruminal;

• Soluções de glicose intravenosa para elevar a glicemia e soluções intrarruminais de ácido acético parecem diminuir a hidrólise da ureia e formar compostos como acetato de amônia, que possui uma absorção limitada pelo epitélio, porém nada de fato é realmente eficaz, por isso, procure um especialista. (Fonte: Consulado do Leite)

Critérios de fornecimento são importantes – Fasanaro detalha por que ocorre a intoxicação. O problema está na incapacidade de o animal absorver toda a amônia gerada pela dosagem alta de consumo da ureia, o acarreta problemas ruminais, irritação das mucosas e problemas hepáticos, já que o fígado é um órgão que absorve toxinas, e, devido ao excesso de amônia, não consegue absorvê-la.

Ele assinala ainda que o rim também é afetado, por não conseguir filtrar a amônia. Outra área afetada é o sistema nervoso central, pela capacidade de a amônia ultrapassar a barreira hematoencefálica.

 

Sinais clínicos – Os sinais clínicos variam entre tremores musculares e da pele, ranger dos dentes, salivação excessiva, respiração acelerada, micção e defecação frequentes, sinais neurológicos, como não coordenação motora e espasmos, dispneia e morte.

Normalmente os sinais clínicos começam a aparecer de 20 a 30 minutos pós-ingestão, e o óbito pode ocorrer em tempos distintos, variando de 45 a 90 minutos. “A dose considerada tóxica é variável, dependendo do tipo de alimento fornecido em conjunto, do estado nutricional do animal e da adaptação prévia. Doses de 0,44 g/kg de peso vivo para animais em jejum podem acarretar sinais clínicos, e doses de 1 a 1,15 g/kg de peso vivo normalmente são letais”, alerta Fasanaro.

Animais com intoxicação aguda morrem em pouco tempo

Orientações – O coordenador do Consulado do Leite explica que exames laboratoriais nem sempre são necessários para confirmação de toxicose por ureia, entretanto, um bom diagnóstico é a verificação de avaliação de compostos nitrogenados na análise de leite. Dessa forma, é possível saber a capacidade e a eficiência da utilização da amônia no trato digestivo. É um método mais prático e acessível a todos os produtores.

A mais importante dica é: procure orientação técnica de qualidade para acompanhamento das dietas de sua propriedade. E muita atenção: uma adaptação é importantíssima, assim como trabalhar com níveis seguros de inclusão, que variam de 0,6% a 1,2% da matéria seca ingerida no dia, conforme a orientação do técnico sobre cada categoria de animal. “Não deixar animais famintos consumirem doses maiores e trabalhar com cocho seco, pois a ureia tem uma atração por água que pode acarretar em consumo de doses maiores”, orienta Fasanaro.

Ele nota ainda que, se possível, o produtor pode fracionar a oferta diária em dois ou mais tratos. É importante fazer uma pré-mistura se for fornecer ao TMR (que pode ser em algum ingrediente que irá em maior quantidade) e tudo deve ser muito bem misturado, de modo que o animal consuma um alimento homogêneo e bem distribuído.

“Quando fornecida via TMR, opte por ureia de liberação lenta, as conhecidas ureias protegidas, que nos fornecem um nível de segurança maior em equipamentos não-próprios para micromisturas. Apesar de algumas dicas, não há uma regra específica e única para fornecimento, por isso o acompanhamento do técnico se torna indispensável”, assinala o consultor.

Controle e prevenção


• A ureia somente é aproveitada por animais com o rúmen funcional e o desenvolvimento do rúmen está associado ao fornecimento de alimentos sólidos;

• Indica-se o fornecimento de ureia para bovinos com idade superior a seis meses;

• O ponto chave na prevenção dessa intoxicação é o manejo alimentar;

• A meta de oferecimento de ureia para animais completamente adaptados é de 1% do total de matéria seca ingerida pelo bovino ou 3% do total de concentrado oferecido;

• Recomenda-se que a ureia seja gradualmente administrada na dieta, no decorrer de três semanas, aumentando-se 1/3 da dose global em cada uma delas até atingir a dose final, principalmente para animais que anteriormente recebiam dietas com baixo teor de proteína;

• A prevenção inclui um adequado programa de adaptação dos animais a consumir ureia mesclada perfeitamente aos alimentos;

• Recomenda-se limitar o fornecimento diário de ureia em 40 g/100 kg de peso vivo.

(Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS)

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