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É fundamental o produtor tomar todas as providências para manter o rebanho saudável

PREVENÇÃO

BRUCELOSE

Vacinação e medidas profiláticas podem garantir a saúde na produção leiteira

É muito importante conhecer os tipos de vacina, a época de vacinação correta e a idade dos animais a serem vacinados

Gisele Dela Ricci*

A brucelose é um tipo de infecção causada por bactérias do tipo Brucella e que atinge de forma direta os bovinos leiteiros. É conhecida como uma zoonose, ou seja, é uma doença que pode ser transmitida aos seres humanos pelos animais. É denominada popularmente como brucelose bovina, uma vez que afeta mais rotineiramente o gado, podendo ser observada em outras espécies.

Os seres humanos infectados normalmente são aqueles que possuem contato direto com os animais doentes. Além dessa forma, a brucelose pode ser contraída por meio da ingestão de leite cru ou produtos derivados que não passaram por tratamento, ou por meio do consumo de carne crua com restos de tecidos de animais infectados ou doentes.

As pessoas que mais se contaminam com a brucelose são os manejadores do gado, produtores e profissionais da área agrária, como médicos veterinários e zootecnistas, que possuem contato com os animais infectados e lidam com a vacinas e bovinos. Também são apontados como infectados os pesquisadores e técnicos de laboratórios que, enquanto desenvolvem vacinas, adoecem.

Impacto na produção leiteira – Estudos apontam que a brucelose em bovinos de leite causa de 20% a 25% de queda na produção do leite e de 15% na criação de bezerros, podendo causar penalidades fiscais, barreiras comerciais, descrédito financeiro e redução nas disputas de novos mercados.

A transmissão da brucelose é realizada por meio do contato de um animal infectado com um animal sadio, principalmente por via oral. Outras formas de infecção são a ingestão de alimentos contaminados com urina e fezes de animais doentes ou restos de placentas pós-parto, que é eliminada com grande quantidade de bactérias durante os abortos de fêmeas doentes.

O contágio via monta natural é dificultado pela estrutura genital das vacas e via inseminação artificial torna-se raro, uma vez que testes são rigorosamente realizados nos doadores antes dos procedimentos.

É muito importante para o produtor conhecer os tipos de vacina, a época de vacinação correta e a idade dos animais. A vacina deve ser aplicada para garantir a eficácia na saúde dos animais.

Os principais sintomas da brucelose bovina são os abortos no terço final da gestação, animais natimortos ou nascidos debilitados, aumento no intervalo entre partos, dificuldade para emprenhar, retenção de placenta, inflamação dos testículos e reduzida qualidade do sêmen, diminuição da produção de leite e carne, repetição de cio e descargas uterinas em conjunto com uma grande eliminação de bactérias, corrimento vaginal, redução na produção de leite, diminuição na fertilidade e inflamação das articulações.

Em humanos, os sintomas da brucelose mais comuns incluem febre, dores no corpo, calafrios, fraqueza, suor excessivo noturno, dores musculares e nas articulações. Os quadros mais graves de brucelose bovina no ser humano são causados pela Brucella melitensis, mas a doença causada pela Brucella abortus pode, em muitos casos, ser confundida com gripe, o que dificulta o diagnóstico médico.

As bezerras merecem também todo cuidado em relação à brucelose, observando as recomendações vacinais indicadas

Ações para o controle da doença – Com objetivo de reduzir a incidência e a prevalência de brucelose e tuberculose no País, em 2001 foi implementado, pelo Ministério da Agricultura, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT).

Esse programa se baseia na vacinação obrigatória de bezerras entre 3 e 8 meses de idade. A vacinação é realizada exclusivamente por veterinários ou vacinadores sob sua responsabilidade e os animais vacinados são identificados por marcação. Esse programa é responsável por definir estratégias para a certificação de propriedades livres ou monitoradas.

As vacinas utilizadas são a B19 e a RB51 e o objetivo é reduzir a prevalência da doença com custo baixo. A vacinação é obrigatória, conforme Portaria Sedraf/Indea 008/2014 e conta com campanhas semestrais de 1° de janeiro a 30 de junho e 1° de julho a 31 de dezembro.

Entre as duas vacinas está a B19, que é obrigatória para todas as fêmeas com idade de 3 a 8 meses. Aplica-se apenas uma dose, que garante entre 75% e 80% de proteção. Caso a fêmea seja vacinada com mais de 8 meses, pode ser que ela produza anticorpos aglutinantes que interferem no diagnóstico, ou seja, podem fazer com que um animal não infectado apresente resultado positivo no teste.

É obrigatório que sejam repetidos os testes anualmente em todos os animais do rebanho

Quanto às novilhas é preciso seguir a correta sistemática da vacinação, sob a orientação, em todos casos, do médico veterinário

A RB51 é permitida para fêmeas com mais de 8 meses de vida que nunca foram vacinadas com a B19, já que não induz à formação dos anticorpos aglutinantes. Pesquisas desenvolvidas por Miranda et al. (2016) demonstraram que o consumo de leite de vacas vacinadas com amostra RB51, independentemente de vacinação prévia com B19, representa baixo risco à saúde pública.

A vacinação deve ser realizada por médicos veterinários que sejam cadastrados no órgão fiscalizador do Estado ou por pessoas com treinamento, já que o aplicador corre risco de contaminação. Após a vacinação, o produtor deve apresentar uma via de atestado ao órgão fiscalizador de seu Estado para fazer a validação.

A melhor forma de prevenção da brucelose em bovinos é por meio da vacinação. No entanto, adicionalmente à vacinação, é necessária atenção constante na introdução de novos animais, uma vez que esta é uma das formas mais comuns de a brucelose alcançar os bovinos sem histórico da infecção.

A fiscalização de profissionais cadastrados e capacitados para acompanharem os produtores é realizada pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal. Esses profissionais podem atuar como responsáveis pela vacinação das bezerras, diagnosticando a doença ou notificando o serviço veterinário oficial. É necessário que esses profissionais garantam a infraestrutura e os equipamentos para a prática de diagnóstico e possuam comprometimento com as estratégias do programa de irradicação da doença.

O certificado pode ser disponibilizado por um médico veterinário habilitado pelo Ministério da Agricultura e ocorre após a realização de exames nos animais do rebanho, sacrifício dos positivos, e após dois resultados sequenciais em rebanhos sem animal com resultados positivos, em um período mínimo de seis meses. A obrigatoriedade é de que sejam repetidos os testes anualmente em todos os animais do rebanho.

Dessa forma, é essencial realizar testes no momento da compra na propriedade de origem, e se negativos, realizar adequadamente a quarentena na propriedade de destino e testando novamente antes de colocá-los junto com os outros animais sadios. Essas medidas, quando bem realizadas, evitam que um animal infectado, porém sem sintomas, seja introduzido no rebanho e esteja em contato com um rebanho saudável e transmita a doença.

Para a população humana não existem vacinas contra a brucelose. Entretanto, medidas simples ajudam a prevenir que a infecção acometa pessoas, como evitar o contato com secreções animais como a placenta, feto ou fluidos corporais ou com as vacinas usadas para o rebanho, utilizando luvas, máscara, roupas próprias de manga comprida e óculos de proteção. Evitar também ingerir leite cru ou qualquer produto feito a partir de leite cru, ou carne mal cozida.

A brucelose no ser humano é uma enfermidade que incapacita e tem diagnóstico dificultado. Deste modo, é importante prevenir e tratar adequadamente o rebanho, buscando promover a saúde dos animais e das pessoas envolvidas na produção. (Obs.: No original, são citadas referências bibliográficas. O interessado pode solicitar à redação da Balde Branco.)

 

*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

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